Texto I
Vaso Grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois...Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
(ALBERTO DE OLIVEIRA – in Antologia Dos Poetas Brasileiros – Fase Parnasiana. Org. Manuel Bandeira, RJ, Edit.Tecnoprint, p.70, 1967.)
Texto II
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações de
[apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
[no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos uni-
[niversais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de
[exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao quer que seja fora
[de si mesmo
De resto não será lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
[amante exemplar com cem modelos
[de cartas e as diferentes maneiras de
[agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
- Não quer mais saber de lirismo que não é libertação.
(MANUEL BANDEIRA – Libertinagen, in Poesia Completa e Prosa, Cia José Aguilar Editora, Rio de Janeiro, 1967ª. Os. 247-248)
I – O emprego, no texto I, dos vocábulos “divas”, “copa”, “repleta”, “esvasada”, “colmada”, “canora”, “ignota”, entre outros, justifica a intenção do autor do texto II, quando escreve: “Abaixo os puristas”.
II – No texto I, observa-se a absoluta contenção lírica (“lirismo comedido” ou “lirismo bem comportado”), atingindo, inclusive, a falta de qualquer impregnação emotiva, ao contrário do texto II, em que seu autor propõe a explosão lírica.
III – No texto II, verifica-se a negação do purismo gramatical (“abaixo os puristas”), atitude confirmada pelo emprego de palavra estrangeira (clow – palhaço). Assim, sua utilização constitui uma ironização do preciosismo parnasiano.
I, II e III – corretos.
I e II – corretos; III – incorreto.
I- incorreto: II e III – corretos.
I- correto; II – incorreto; II – correto.
I – incorreto; II – correto; III – incorreto.