TEXTO I
Um movimento entre a ruptura estética e o valor do passado
[1] RIO - Falar em modernismo brasileiro é
mais do que localizar no país tendências
artísticas de pretensões universais. O brasileiro
é a marca fundamental pela qual o
[5] movimento, aqui, se garantiu modernista.
Pensar no nosso modernismo é pensar no
folclore do "Macunaíma" (1928) de Mário de
Andrade e da música de Villa-Lobos; na
antropofagia de Oswald de Andrade e do
[10] "Abaporu" (1928) de Tarsila do Amaral,
retomada pela Tropicália. Antes de tudo isso,
até hoje o marco do movimento no imaginário
corrente é a Semana de Arte Moderna de
1922. Só que naqueles dias 13, 15 e 17 de
[15] fevereiro de 90 anos atrás, a ideia de
brasilidade era apenas um borrão. O Brasil
ainda era sobretudo um país cujo atraso
deveria ser superado — mesmo que os
"passadistas" a serem combatidos estivessem
[20] na plateia do Teatro Municipal de São Paulo,
representados pela elite cafeeira financiadora
da programação de artes, música e literatura
da Semana, no ano do centenário da
independência.
[25] Em "A brasilidade modernista: sua
dimensão filosófica" — que, publicado
originalmente em 1978, será reeditado em
março pela Móbile —, Eduardo Jardim trata de
dois tempos do modernismo brasileiro.
[30] Segundo ele, a partir de 1917, havia uma
preocupação imediatista com a inserção na
ordem moderna internacional, com uma forte
ideia de ruptura, norteadora da Semana de
1922. Já a partir de 1924, molda-se um
[35] caminho construtivo para essa inserção, o da
particularidade nacional — e então a tradição
cultural brasileira passa a ter valor.
— No primeiro momento, a oposição de
modernismo e passadismo é muito clara —
[40] afirma Jardim. — A discussão era como
modernizar a produção cultural brasileira pela
absorção de recursos expressivos modernos.
Em 1924, já se percebe que essa perspectiva
não vai funcionar, e que se pode assegurar a
[45] entrada numa ordem universal por uma
mediação dos traços nacionais. Esses traços
perduram ao longo do tempo, como o folclore.
Isso faz com que a ideia de ruptura seja
revista.
[50] O "primeiro momento" do modernismo —
que Mário de Andrade, em 1942, chamaria de
"tempo destruidor" — é contado pelo jornalista
Marcos Augusto Gonçalves em "1922 — A
semana que não terminou", que a Companhia
[55] das Letras lança na próxima sexta, dia 10.
Numa reportagem de cunho histórico, ele
explora a rede de relações que culminou na
Semana, inaugurada com uma exposição de
artistas como Victor Brecheret, Di Cavalcanti e
[60] Anita Malfatti.
Depois de estudos em Berlim e Nova York,
Anita abrira em 1917 — ano que Jardim usa
como início desse primeiro tempo — a primeira
mostra no país a se autodenominar moderna,
[65] que entrou para a História pela crítica feroz de
Monteiro Lobato. O escritor condenou aquela
"arte caricatural" tipicamente europeia,
vinculando-a à perturbação mental. Já para
Oswald, sua pintura causava "impressão de
[70] originalidade e de diferente visão". Mais do
que por características próprias, naquele
momento a obra era moderna sobretudo por
ser diferente — e essa diferença ainda era, em
grande medida, representada pelo que se
[75] criava lá fora.
Lobato defendia um caminho próprio para a
arte brasileira — e o "moderno" era sinônimo
de estrangeiro. Seu nacionalismo se voltava
para o mundo rural paulista, representado por
[80] artistas como Almeida Júnior (1850-1899),
mas a São Paulo que se projetava na jovem
República era a cidade industrial, do
progresso.
http://oglobo.globo.com/cultura/um-movimentoentre-ruptura-estetica-o-valor-do-passado-3873586
Tendo em vista as ideias do texto, marque a opção que completa corretamente a seguinte frase:
O Modernismo brasileiro se firmou
nos três dias em que ocorreu o que se chamou de Semana de Arte Moderna.
na produção de obras ligadas ao folclore nacional, que punham em evidência a ideia de brasilidade.
na absorção de recursos expressivos modernos importados da Europa por Oswald de Andrade.
no combate aos passadistas representados pela elite cafeeira presente na plateia do Teatro Municipal de São Paulo.