Texto I
(...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam irradiações da inteligência. (...) O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem.
(...)
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito difícil e intrincada que fosse.
Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo pedantismo de certas moças, que tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a tagarelar de tudo.
(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Ática, 1980.)
Texto II
Aquela pobre flor de cortiço, escapando à estupidez do meio em que desabotoou, tinha de ser fatalmente vítima da própria inteligência. À míngua de educação, seu espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a tirar da substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a explicação de tudo que lhe não ensinaram a ver e sentir.
(...)
Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se tão perita no ofício como a outra; a sua infeliz inteligência nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou admiravelmente na lama forte dos vícios de largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem tirar sangue; sabia beber, gota a gota, pela boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a vítima pudesse dar de si.
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. SP: Editora Ática, 1997.)
Considerando as descrições presentes nos fragmentos transcritos, é correto afirmar que
o texto I filia-se ao Romantismo, uma vez que nele a heroína é reflexo, em grande medida, das circunstâncias do ambiente em que se criou.
o texto I filia-se ao Romantismo, já que nele a figura feminina é descrita sob o prisma da idealização.
o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da personagem são naturais no meio em que vive.
o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura feminina é descrita de forma fiel à realidade do período histórico em que está inserida.
o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele a personagem constitui uma representação inequívoca do perfil feminino típico.