UFGD 2021

Texto I

 

NÓ, CLÍMAX, DESFECHO

 

Nó – É o fato que interrompe o fluxo da situação inicial da narrativa, criando um problema ou obstáculo que deverá ser resolvido. O Nó é o que dá origem ao conflito dramático [...]. Ele evidencia que só há uma história a ser contada por que uma crise se instalou em determinada situação exigindo que se tente resolvê-la de modo a reequilibrar o que ela desestabilizou [...];

 

Clímax – É o elemento que marca o auge do conflito dramático, momento do tudo ou nada entre as forças contrárias que agem e se defrontam na narrativa [...], engendrando e desenvolvendo a história. Diferentemente do desfecho, o clímax caracteriza um momento em que a expectativa em relação à resolução do conflito central da narrativa ignora qual das forças contrárias vencerá. O clímax, portanto, suspende, mantendo por instantes em tensão máxima, a história contada na narrativa;

 

Desfecho – É a resolução do conflito central da narrativa, momento em que uma das forças contrárias vence e se afirma sobre a sua oponente. Normalmente, liga-se à situação final da narrativa.

FRANCO JUNIOR, Arnaldo. Operadores de leitura da narrativa. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (orgs.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2003, p. 42.

 

Texto II

 

SOZINHOS

 

Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada. É assim: Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.

– Ronca. – Não ronco.

– Ele diz que não ronca

– comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.

Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo. Ficam os dois sozinhos.

– Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer – diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. – É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.

– Humrfm – diz o velho.

Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. Às ideias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias ideias e deixado de escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha.

Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba. Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.

– Rarrá! – diz a velha, feliz.

Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca!

– Rarrá! – diz o velho, vingativo.

E, em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio – por causa dos roncos – não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes. É um diálogo sussurrado.

“Estão prontos?”

“Não, acho que ainda não...”

“Então, vamos voltar amanhã...”.

VERISSIMO, Luis Fernando. Sozinho. In.: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

 

Assinale a alternativa correta sobre os aspectos narrativos empregados por Luís Fernando Veríssimo no texto Sozinhos, presente na obra Comédias para se ler na escola (use o texto I como apoio).

a

Ao utilizar-se do suspense no auge do conflito dramático (identificado pelo trecho “e, em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro”), a crônica traz um desfecho inesperado, capaz de instigar a imaginação e fazer o leitor se questionar: eles estariam mesmo sozinhos?

b

O clímax, ou seja, o fato que interrompe o fluxo da situação inicial da crônica de terror, dá-se quando o narrador questiona enfaticamente o leitor, logo no primeiro parágrafo: “Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar”.

c

Para a construção do nó e do desfecho da tragicomédia de terror Sozinhos, o narrador e o autor usam como elemento narrativo a linguagem humorística para retratar o cotidiano de um casal de idosos que, constantemente, recebe visitas inesperadas de seus filhos e familiares.

d

No desfecho da crônica estilo épico, a gravação da fita apresenta uma mensagem de caráter sensacionalista, repleta de onomatopeias e simbolismos, que podem ser identificados nos trechos: “Humrfm – diz o velho”; “Rarrá! – diz a velha, feliz” e “Rarrá! – diz o velho, vingativo”.

e

Ao apresentar como elemento dramático as ações linguístico-discursivas do gênero diálogo formal (presentes nas conversas de personagens, autor e leitor), o conto lírico surpreende o narrador ao trazer, em seu desfecho, a continuidade da trama, identificada por: “[...] vamos voltar amanhã[...]”.

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
A

Resolução

Resolução:

O texto “Sozinhos” de Luís Fernando Veríssimo brinca com a típica estrutura narrativa de introdução (situação inicial comum, um casal de idosos) que descamba em um “nó” (a proposta de gravar o ronco) e atinge o ápice do suspense justamente no momento em que ambos ouvem a fita, descobrindo barulhos suspeitos além de seus roncos. O desfecho se mostra incerto e instigante, pois a fala final – “Vamos voltar amanhã…” – levanta a dúvida: será que havia mesmo algo ou alguém estranho na casa?

Essa construção narrativa, com clima de humor e terror, caminha para um fim aberto e inesperado, algo típico do clímax que, segundo a definição do primeiro texto (de Arnaldo Franco Junior), consiste na tensão máxima do conflito antes da solução final. Em “Sozinhos”, o leitor permanece intrigado quanto à possibilidade de estarem ou não sozinhos de fato.

Dicas

expand_more
Observe em que momento do texto o suspense e a tensão atingem seu auge.
Veja o que efetivamente muda na rotina comum do casal — essa mudança sinaliza o “nó”.
Identifique o que torna o final uma resolução (ou possível desfecho) do conflito apresentado.

Erros Comuns

expand_more
Confundir o momento do clímax do texto com a parte em que o narrador fala diretamente ao leitor (recurso de linguagem metaficcional).
Achar que o conflito está na conversa inicial sobre o ronco, quando na verdade o maior conflito se dá ao ouvir as vozes misteriosas na fita.
Pressupor que há várias visitas de familiares, sendo que no texto se ressalta a solidão do casal.
Revisão

Conceitos Importantes:

  • Nó: Momento em que surge um conflito, alterando a situação inicial, demandando resolução.
  • Clímax: Auge do conflito, quando a tensão fica máxima e o rumo da história ainda é incerto (quem vencerá?).
  • Desfecho: Resolução ou encerramento do conflito principal, definindo quem ou o quê prevalece.
  • Suspense: Técnica que retarda a informação ao leitor, provocando curiosidade e tensão.
Transforme seus estudos com a AIO!
Estudantes como você estão acelerando suas aprovações usando nossa plataforma de IA + aprendizado ativo.
+25 pts
Aumento médio TRI
4x
Simulados mais rápidos
+50 mil
Estudantes
Sarah
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
Jairo Thiago
Conheci a plataforma através de uma reportagem e, como gosto de IA, resolvi investir. A quantidade de questões e suas análises foram tão boas que meu número de acertos foi o suficiente para entrar em Medicina na Federal do meu estado, só tenho que agradecer à equipe do AIO pela minha tão sonhada aprovação!
Rejandson, vestibulando
Eu encontrei a melhor plataforma de estudos para o Enem do Brasil. A AIO é uma plataforma inovadora. Além de estudar com questões ela te dá a TRI assim que você termina.
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar