Texto I
Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
[5] começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
[10] começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.
“O cão sem plumas”, João Cabral de Melo Neto
Texto II
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado
sertão é por os campos gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de
rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e
do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior. [...]
[5] Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é
questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa
Considerando o texto I, no contexto da obra do poeta, assinale a alternativa correta.
“O cão sem plumas” retrata e denuncia, fundamentalmente, as péssimas condições de vida que o sertanejo enfrenta durante o período da seca.
No excerto em questão, a linguagem poética ressalta a ideia de que homem e meio se confundem em viscosa mistura.
O título do poema ganha sentido irônico na medida em que plumas sugere “ornamento, beleza”, atributos ausentes na região nordestina.
Dos versos pode-se inferir, corretamente, que a grandeza humana resulta da harmonia entre homem e natureza.
A valorização de um conteúdo explicitamente ideológico, em detrimento da forma estética, é traço marcante na obra do poeta.