TEXTO I
Lua Adversa
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
(MEIRELES, Cecília. Poesia completa: Vol.2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010).
TEXTO II
Mulher de Fases
Charles Brown Jr
Que mulher ruim
Jogou minhas coisas fora
Disse que em sua cama eu não deito mais não
A casa é minha você que vá embora
Já pra saia de sua mãe e deixa meu colchão
Ela é “pro” na arte de pentelhar e aziar
É campeã do mundo
A raiva era tanta que eu nem reparei que a lua
Diminuia
A doida tá me beijando a horas
Disse que se for sem eu não quer viver mais não
Me diz, Deus, o que é que eu faço agora?
Se me olhando desse jeito ela me tem na mão
Meu filho aguenta
Quem mandou você gostar
Desta mulher de fases..
O poema de Cecília Meireles e a composição de Charles Brown Jr apresentam em comum na construção de ambos:
A mesma pessoa do discurso.
A mesma temática.
A mesma linguagem coloquial.
A presença da ironia.
A presença da narração.