Texto I
GÊNEROS TEXTUAIS
Autobiografia: [...] narração retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz da sua própria existência, uma vez que põe ênfase na sua vida individual, em particular a história da sua personalidade. Ou seja, relatos escritos pelo indivíduo com referência a si próprio (o que exclui as biografias), apresentados como diretamente referenciais (o que exclui os romances) e, por isso, relativos a uma vida inteira ou ao essencial de uma vida (o que exclui ao mesmo tempo as memórias da infância [...] e os diários íntimos).
Biografia: [...] descrição material, sistemática e histórica dos livros; arrolamento alfabético das obras de um autor ou a seu respeito, de uma época, movimento, tendência, etc. Quando acompanhada de julgamento acerca do conteúdo das obras, recebe o nome de biografia crítica. E as listas em que se enumeram as classificações sistemáticas dos livros chamam-se biografias das biografias.
Diário: [...] relato de acontecimentos ocorridos durante as vinte e quatro horas do dia. [...] Obedece ao calendário, ao presente fugaz de cada dia, o diário pode ser de vários tipos, conforme a ênfase recaia nos acontecimentos ou nas reflexões que suscitam. Desde os episódios políticos até a pura introspecção, passando pelo registro crítico dos cenários e das peripécias que as viagens propiciam [...].
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. rev.,ampl. e atual. São Paulo: Cultrix, pp. 14, 47, 57 e 123-124, 2013.
Texto II
[...] A escrita, ao fim e ao cabo, é uma tentativa de compreender as circunstâncias próprias e clarificar a confusão da existência, inquietudes que não atormentam as pessoas normais, só os inconformistas crônicos, muitos dos quais acabam convertidos em escritores depois de terem fracassado em outros ofícios. Esta teoria tirou-me um peso de cima: não sou um monstro, há outros como eu. [...] A raiz do meu problema foi sempre a mesma: incapacidade de aceitar o que a outros parece natural e uma tendência irresistível para emitir opiniões que ninguém deseja ouvir [...]. Mais tarde, durante os meus anos de jornalista, a curiosidade e o atrevimento tiveram algumas vantagens [...].
ALLENDE, Isabel. Meu país inventado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
Com uma vida marcada pelo golpe militar orquestrado por Augusto Pinochet, o posterior exílio na Venezuela e sua mudança para os Estados Unidos, Isabel Allende nunca mais voltou a viver em seu país natal, o Chile, mesmo após o restabelecimento da democracia.
Sobre seu livro Meu País Inventado, é correto afirmar que se trata de
uma autobiografia, na qual a autora relata de forma nostálgica sua experiência como uma mulher chilena, refugiada política e imigrante: “[...] Fui estrangeira durante quase toda a minha vida, condição que aceito, porque não tenho alternativa. [...] fui peregrina por mais caminhos do que os que a memória me consente”.
uma produção biográfica e sistemática, obedecendo ao calendário chileno, em que Allende documenta as 14 VESTIBULAR 2022 UFGD – CURSOS PRESENCIAIS E A DISTÂNCIA – PROVA OBJETIVA diferenças culturais, políticas e geográficas, como as apresentadas na passagem: “O Chile também possui a ilha de Juan Fernández, onde, em 1704, foi abandonado o marinheiro escocês Alexander Selkirk, o qual inspirou o romance de Daniel Defoe, Robison Crusoé”.
um diário autobiográfico da historiadora, que relata sua viagem rumo aos EUA após a implantação do regime ditatorial de Pinochet (1973-1990): “As minhas férias ideais são as passadas debaixo de um guarda-sol [...], lendo livros sobre aventurosas viagens que nunca faria, a menos que fosse para fugir de algo”.
uma biografia crítica da migrante sociopolítica Isabel Allende que aborda aspectos das famílias chilenas: “Cresci embalada pela história da carochinha, segundo a qual não há problemas raciais no Chile. Não falamos de racismo, mas de ‘sistemas de classes’ (agradam-nos os eufemismos) que são praticamente a mesma coisa”.
uma descrição histórica e autobibliográfica a respeito de elementos estruturais da população andina: “O Chile é um país moderno com quinze milhões de habitantes, mas com ressaibos de mentalidade tribal. Isto não mudou muito, apesar da explosão demográfica, sobretudo nas províncias, onde cada família continua fechada no seu círculo [...]”.