Texto I
Existe amor em São Paulo
A maior criação do Brasil é a cidade de São Paulo, e calma porque isso quem diz não sou eu, é o IBGE*.
Da escala humana à escala financeira, São Paulo lidera. Mais de 10% das riquezas produzidas no Brasil são produzidas nesta cidade. Que família do país não tem um parente trabalhando aqui?
Se São Paulo não tem mar, São Paulo tem um mar de ideias.
O planejamento do Brasil passa tanto pelas torres dos complexos empresarias das avenidas Faria Lima e Berrini quanto pelos prédios da Esplanada dos Ministérios.
O novo ciclo de desenvolvimento do Brasil tem tudo a ver com a cidade. Seu supermundo financeiro faz a cidade evoluir sempre de pilha nova, com carga máxima, conectada pelas antenas de seus 11 milhões de habitantes/seguidores.
São pouquíssimas as metrópoles do mundo que contam com área tão extensa de massa cinzenta, com mistura tão completa de profissionais competentes, cada vez mais especializados.
É um ciclo virtuoso: os serviços de alta qualidade atraem trabalhadores de alta qualificação e remuneração, que buscam mais serviços de ponta, como cultura, saúde, educação, luxo e alta gastronomia, que por sua vez atrairão consumidores de outras cidades e países.
São Paulo hoje tem capital humano e capital financeiro para encubar qualquer empreendimento. Os galpões industriais que ficaram vazios com a transferência das indústrias da cidade para outras regiões do Estado e do país são rapidamente reocupados por atividades criativas e comerciais. A relativa menor atividade industrial (porque a cidade segue potência fabril) foi compensada pela maior atividade cultural, de feiras e de eventos.
Não saí de Salvador para vir para São Paulo, mas acabei chegando à metrópole paulista e aqui me desenvolvi em plenitude, prosperei como tantos outros migrantes e imigrantes.
Amo trabalhar e em São Paulo o trabalho sempre foi muito valorizado. Isso é fundamental, porque um dos grandes problemas dessa sociedade tão demandada é o desrespeito ao trabalho.
Assim, quando as pessoas querem te ofender, elas dizem: “esse cara só pensa em trabalho”. Quando querem ofender São Paulo, dizem a mesma bobagem: que a cidade só é boa para trabalhar.
Mas o que mais uma cidade precisa ser? Se ela é boa para trabalhar, o resto será consequência.
(Nizan Guanaes, Folha de S. Paulo, 24.01.2012. Adaptado)
* IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Texto II
Não existe amor em SP*
Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
(Criolo, disponível em http://www.vagalume.com.br/criolo/nao-existe-amor-em-sp.html Acesso em: 27.01.2012. Adaptado)
* Na letra da música, a sigla SP refere-se à cidade de São Paulo e não ao Estado.
Relacionando os dois textos, pode-se concluir corretamente que há
semelhança, pois ambos criticam o desrespeito ao espaço público onde, por exemplo, “os grafites gritam” poluindo visualmente a cidade.
semelhança, pois ambos descrevem a cidade apontando, proporcionalmente, tanto os aspectos positivos como os negativos.
oposição, pois a letra da música desmistifica a imagem elogiosa de São Paulo, apresentada no texto I, ao caracterizá-la como um buquê de flores mortas.
oposição, pois, ao contrário do texto I, a letra da música não faz referências à valorização da aparência e da ostentação presente na sociedade.
oposição, pois a letra da música de Criolo desmente a afirmação de Nizan Guanaes de que São Paulo continua uma potência fabril.