Texto I
Adeus, Meus Sonhos!
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo
Texto II
Mocidade e morte
Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
(...)
Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher — camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...
(...)
E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: — impossível!
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.
Vejo além um futuro radiante:
Avante! — brada-me o talento n'alma
E o eco ao longe me repete — avante! —
o futuro... o futuro... no seu seio...
Castro Alves
De acordo com os dois textos e a respeito de seus respectivos autores, assinale a assertiva incorreta.
Pode-se afirmar que no texto de Álvares de Aze-vedo, poeta da segunda geração romântica, há a presença do escapismo, característica deste mo-mento literário.
No texto II, os versos 5 e 6 ilustram o sensualismo que costuma caracterizar a poesia lírico amorosa de Castro Alves.
A temática da morte, exposta em tom irônico, mui-tas vezes empregada neste poema lírico de Castro Alves, constitui um elemento que o distancia, nes-te sentido, da geração poética anterior.
Parece haver um diálogo de oposição de ideias entre os dois poetas: um dá adeus à vida, por seus infortúnios e decepção amorosa; o outro con-trapõe essa ideia, mostrando-se à disposição da vida para gozar o amor de sua amada. Infere-se, a partir deste, uma crítica velada ao segundo mo-mento romântico.
No texto II, verso 13, no contexto do poema, é in-troduzida uma concepção idealizada da figura fe-minina, representada como uma virgem inacessí-vel, característica da fase literária a qual pertence o autor.