TEXTO:
Eu a vejo e parece que vem de longa viagem. O
Largo da Palma, tão quieto e assim vazio de gente,
talvez seja agora o mais tranquilo recanto de Salvador
da Bahia. A tarde se acaba, é verdade, mas a noite
[5] ainda não chegou. E por que me encontro aqui, quem
sou, isso não importa. O que realmente conta é que
estou na esquina do Bângala, de pé e a fumar, buscando
trazer a paz do largo para mim mesmo. As árvores, as
lâmpadas fracas nos postes de cimento e o vento
[10] manso. O largo seria apenas isso não fosse a mulher
que vem tropeçando muito, talvez bêbada ou uma
epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da
igreja. Cai, estremecendo, em silêncio.
— Misericórdia! — exclamo, já a correr,
[15] aproximando-me.
E mal me debruço para acudi-la, não tenho dúvida
de que está morrendo. Dois ou três minutos de vida,
no máximo. E penso que, se tentar erguê-la, morrerá
em meus braços. Debruço-me um pouco mais,
[20] esforçando-me por levantá-la. Os olhos se escancaram,
a respiração falta, uma golfada de sangue preto. E,
porque sei que está morta, recoloco-a no chão, com
cuidado, como se temesse feri-la. [...]
Hoje, dois meses após a morte da mulher, o Largo
[25] da Palma já a esqueceu porque, velho como é, não
tem memória para todos os acontecimentos. Não deve
sequer lembrar-se de quando levantaram as casas
mais baixas e estreitas, estas de telhas tão pretas
quanto o tempo, com o verde e o azul em tintas fortes
[30] ocultando as cicatrizes e as rugas. E, certamente, não
se lembra de quando foram plantadas as árvores e
chegaram os primeiros pombos. Vendo-o agora, nesta
penumbra que sempre avisa a aproximação das noites
na Bahia, com a igreja vazia e os sobradinhos em
[35] silêncio, penso na mulher que morreu em meus braços.
ADONIAS FILHO. Um corpo sem nome. ____. O largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. p. 73 e p. 80.
A análise de fragmento retirado do texto de Adonias Filho está correta em
I. No período “O Largo da Palma, tão quieto e assim vazio de gente, talvez seja agora o mais tranquilo recanto de Salvador da Bahia.” (l. 1-4), existem duas orações.
II. Em “talvez bêbada ou uma epiléptica, quase a alcançar a escadaria do pátio da igreja.” (l. 11-13), o “a” em negrito, nas duas ocorrências, pertence à mesma classe gramatical.
III. O trecho “As árvores, as lâmpadas fracas nos postes de cimento e o vento manso.” (l. 8-10) constitui uma frase nominal, utilizada para descrição de cenário.
IV. O “o”, em “Vendo-o agora, nesta penumbra” (l. 32-33), é um pronome e se refere a “Largo da Palma”. (l. 24-25).
V. O verbo destacado em “penso na mulher que morreu em meus braços.” (l. 35) está usado como transitivo direto.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
I e III.
II e IV.
III e IV.
I, II e V.
II, III e V.