TEXTO
Entrevista com Evanildo Bechara
Jornalista. É fato que o português está sendo invadido por expressões inglesas ou americanizadas – como background, playground, delivery, fastfood, dowload... Isso o preocupa?
Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura. O sistema da língua não sofre nada com a introdução de termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses termos entram no sistema têm de se submeter às regras de funcionamento da língua, no caso, o português. Um exemplo: nós recebemos a palavra xerox. Ao entrar na língua, ela acabou por se submeter a uma série de normas. Daí surgiram xerocar, xerocopiar, xerografar, enfim, nasceu uma constelação de palavras dentro do sistema da língua portuguesa.
Jornalista. Então esse processo não é ruim?
Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estrangeirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, é o inglês, por ser um idioma voltado para o mundo.
Hoje, fala-se “delivery”, mas poderíamos dizer “entrega a domicílio”. E há quem diga que o correto é “entrega em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem fique com o “delivery”.
A palavra inglesa delivery não chegou a entrar nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega a domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo entregar normalmente se constrói com a preposição a. Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a língua se enriquece quando você tem dois modos de dizer a mesma coisa.
Jornalista. E por que usar “delivery”, se temos uma expressão própria em português? Não é mais um badulaque desnecessário?
Bechara. Não sei se é badulaque, o fato é que a língua, que não tem vida independente, também admite modismos, além de refletir todas as qualidades e os defeitos do povo que a fala. Estrangeirismos aparecem, somem e podem ser substituídos por termos nossos. Foi o que aconteceu com a terminologia clássica e introdutória do futebol no Brasil, quando se falava em goalkeeper, off side e corner. Com a passar do tempo, e sem nenhuma atitude controladora, os termos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões feitas no Brasil, como goleiro, impedimento, escanteio.
(Entrevista de Evanildo Bechara. Disponível em http.//www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=. Acesso em 30 de março de 2008. Adaptado).
A compreensão global do Texto – que resulta da articulação entre os elementos contextuais e o material linguístico presente – nos leva a reconhecer como afirmações principais do texto as seguintes:
1) “o português está sendo invadido por expressões inglesas ou americanizadas”.
2) “Não há língua que tenha seu léxico livre dos estrangeirismos”.
3) “a língua se enriquece quando você tem dois modos de dizer a mesma coisa”.
4) “O sistema da língua não sofre nada com a introdução de termos estrangeiros”.
5) “os termos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões feitas no Brasil”.
Estão corretas:
1, 2, 3 e 5 apenas
2, 3 e 4 apenas
3 e 5, apenas
1, 2 e 4, apenas
1, 2, 3, 4 e 5