Texto
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade)
A leitura do poema de Drummond não nos autoriza afirmar que:
As várias repetições da palavra medo é recurso poético que reforça a ideia de dominância desse sentimento.
Ao utilizar o termo internacional como determinante da expressão congresso, no título do poema, o eu lírico destaca a universalidade da questão abordada: o domínio do medo sobre os homens de qualquer parte do mundo.
O medo é apresentado, no poema, como um sentimento que se sobrepõe a outros, invalidando-os e impossibilitando suas manifestações.
A estrutura descritiva do poema subtrai sua carga lírica, elimina sua sonoridade, aproximando-o da prosa.
O advérbio provisoriamente, no primeiro verso, revela aparente sentimento de esperança de que a situação vivenciada não seja permanente, porém, no decorrer do poema, o que prevalece é a desesperança, culminando com a morte.