Texto
Como se sabe, os escritores brasileiros do período romântico interpretaram o ideário de sua escola literária num contexto criado pela independência política; por isso, entenderam a exaltação da natureza como exaltação da natureza tropical e elaboraram um mito das origens da nacionalidade em que no lugar do cavaleiro medieval aparece o índio.
Logo depois da Independência, surgiu no Brasil a questão de saber em que língua deveria expressar-se a literatura brasileira, e muitos intelectuais optaram por denominações como “língua nacional” ou mesmo “língua brasileira” – denominações nas quais Portugal não estava presente. Alguns escritores foram além de uma atitude meramente programática, usando uma linguagem literária em que os “brasileirismos” tinham um papel considerável.
José de Alencar foi um desses escritores, e o melhor exemplo desse estilo é a obra Iracema, que, embora se apresentasse como romance, tem todas as características de um longo poema em prosa. Diferentemente de tudo quanto tinha aparecido até então em língua portuguesa, o estilo dessa obra não deixou de provocar reações iradas do outro lado do Atlântico: o filólogo português Pinheiro Chagas fez dele uma avaliação muito depreciativa, à qual Alencar responderia acrescentando à segunda edição de Iracema um post-scriptum que ficou célebre.
Mas a polêmica entre Alencar e Pinheiro Chagas não foi a única em que autores brasileiros e portugueses se enfrentaram a propósito da linguagem literária. Contudo, a polêmica entre Alencar e Pinheiro Chagas permanece como um marco, pela lucidez do pensamento de Alencar e por ter lançado a idéia de que a linguagem literária deveria ser construída a partir da linguagem efetivamente usada pelos brasileiros. Trata-se de um programa que, por um lado, livra o escritor do peso dos modelos antigos e, por outro, o engaja numa pesquisa de linguagem que pode levar a resultados riquíssimos, como mostraram, bem mais tarde, as obras de alguns modernistas (particularmente os da vertente regionalista) e, acima de tudo, a linguagem literária de Guimarães Rosa, na qual o popular e o literário se confundem num constante jogo de espelhos.
(ILARI, Rodolfo e BASSO, Renato. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2006, p.214-218. Adaptado).
De acordo com o Texto, ao tratar da linguagem literária, os autores românticos instituíram um programa que levou os autores a engajarem-se “numa pesquisa de linguagem” cujos resultados foram “riquíssimos, como mostraram, bem mais tarde, as obras de alguns modernistas.”. Acerca da linguagem de autores modernistas, analise as proposições a seguir.
1) Para a geração de escritores da chamada “fase heróica” do Modernismo brasileiro, um dos princípios basilares foi a valorização da língua falada e de suas formas típicas como recurso literário, o que implicou profunda remodelação da linguagem literária.
2) A poesia de Mário de Andrade, principalmente a Paulicéia desvairada, foi marcada pelo uso do verso livre e pela influência das vanguardas européias. Nos livros seguintes, ele procurou uma forma mais pessoal de expressão poética, buscando fixar uma linguagem literária brasileira e manifestando sua preocupação com as questões sociais do país.
3) Manuel Bandeira conseguiu integrar, em sua poesia, as formas da língua coloquial à linguagem poética da primeira geração do Modernismo brasileiro. Explorando a riqueza expressiva da linguagem antiacadêmica e as possibilidades rítmicas do verso livre, ele soube cultivar um profundo lirismo em relação aos fatos da vida cotidiana.
4) Uma das mais relevantes propostas do projeto artístico de Oswald de Andrade foi a de ruptura com os padrões da língua literária culta e busca de uma língua brasileira, na qual estivessem presentes os ‘erros gramaticais’, vistos por ele como verdadeiras contribuições para a definição da nacionalidade.
Estão corretas:
1, 2, 3 e 4
1, 2 e 3, apenas
1, 2 e 4, apenas
1, 3 e 4, apenas
2, 3 e 4, apenas