UnP 2015/1

TEXTO

Chega de patrulha ideológica ou caça às bruxas!

Texto adaptado de Thiago Trindade*. Utilizado com a autorização do autor.

 

[1]    Meus caros, me mantive quieto nas redes sociais nestas eleições, mas preciso me

manifestar por uma questão de consciência.

[2]    Estou cansado, nestas eleições, do patrulhamento ideológico de alguns eleitores de

um partido (PT) e a caça as bruxas de alguns eleitores de outro partido (PSDB). Cansado também

dos discursos e argumentos de conveniência - "uma parte do povo é ignorante quando vota em "x",

mas a outra parte que vota em "y" não é, mesmo quando estes "y" deram peso eleitoral para

eleger Micarla's e Rosalba's".

[3]    A decisão do voto é muito mais complexa do que muita gente imagina, as pessoas

levam em consideração muitas coisas (boas e ruins) em suas decisões. Existe mais um discurso

falacioso e de preconceito de classe, culpando as "bolsas" pelo voto, enquanto em todas as classes

vejo pessoas decidindo seu voto pela influência e proximidade com o candidato "a" ou "b" e os

ganhos diretos e indiretos de sua eleição.

[4]    Lamento profundamente o país ter perdido mais uma oportunidade de discutir

políticas de estado com profundidade. Poucos candidatos avançaram em propostas concretas para

além do senso comum, de que se precisa qualificar a saúde, a educação e a segurança. Não foram

no âmago dos problemas, e não apontaram que modelo defendem realmente nestas políticas

sociais, nem com que orçamento irão executá-los.

[5]    Eleições marcadas pelo marketing, distorções dos números, tanto pelo governo

quanto pelas oposições, e muito pouco pelo argumento de ideias.

[6]    Sei que isso faz parte do jogo político, mas nós eleitores não podemos cair no canto da

sereia dos candidatos, que na maioria das vezes fazem campanha pelo poder, então para eles vale

tudo. Precisamos superar a lógica dos fins justificam os meios. A história da humanidade já

demonstrou que isto é uma mentira. O que fica para a história e para a mudança cultural de um

povo são os meios éticos, honestos, socialmente justificados para atingir a mudança necessária.

Não o contrário.

Por enquanto, vimos um debate eleitoral baseado em acusações, especulações, "terrorismo", com

o olho no retrovisor. Praticamente não vimos, nos programas de TV nem nos debates, a defesa de

modelos estruturantes para o Pais.

[7]    Estou cansado também do quanto as pessoas defendem suas verdades absolutas, e

seus pensamentos mágicos que, como seus candidatos, "podem salvar o pais". Ledo engano.

Quanta prepotência, quanta arrogância!

[8]    Com este sistema político que temos, nenhum deles tem estas condições. O problema

é sistêmico. Com esta forma de financiamento das eleições, de alianças partidárias, continuaremos

no mesmo caos político. Enquanto vejo eleitores defendendo seus candidatos para o executivo, e

falando em vontade de mudança, me parece que nossas Assembleias Legislativas e Câmara Federal

continuará mais "conserversadora" ainda. Alguma incongruência existe aí.

[9]    Por outro lado sou um pouco otimista em relação ao momento do Brasil e do mundo

em que estamos. Com a cidadania mais presente e os meios de comunicação mais ampliados

através das redes sociais, a população não aceitará mais erros dos governantes e a intolerância com

a corrupção felizmente é crescente.

[10]    As manifestações de 2013 estão aí para evidenciar esta tese. Assim, os governos vão

ter que aprender a governar com a população e todas as classes sociais, assim espero.

[11]    Talvez estejam me questionando, e aí você não tem candidato, não tem lado, não

tem partido? Qual a sua ideologia ?

[12]    Começo dizendo que, de fato, não tenho partido. Isso me permite independência de

opinião, sem me angustiar com defesas partidárias, mesmo quando em desacordo. E isso observo

em muitos colegas de direita e esquerda, o apego partidário e seus discursos contraditórios com a

história, e com o passar do tempo, a mudança de suas bandeiras, não por independência

ideológica, mas para ter que acompanhar as ações de governos de seus partidos.

[13]    Mas também não voto em partidos conservadores de direita.

Minha visão ideológica de mundo é de esquerda, mas não uma esquerda do século passado, presa

a dogmas comunistas ou socialistas, nem muito menos bolivariana, mas uma esquerda do século

XXI, que agrega o modelo social democrata, que conversa com o capitalismo (não o velho, não o

liberal, não o de extremo consumo), mas aquele socialmente e ecologicamente comprometido, ao

estilo escandinavo, de uma política que tem como compromisso realizar justiça social, com um

estado forte e pro-ativo, e de bem estar social.

[14]    Defendo ideias e políticas de estado, não programas de governo e suas marcas.

[15]    No campo da saúde, defendo um sistema público, de fato universal, com a Atenção

Primária de alta qualidade ordenando o sistema;

[16]    no campo da educação, defendo o acesso universal público à educação fundamental,

ao Ensino Médio de alta qualidade e à Universidade Pública para todos;

[17]    no campo da segurança, uma unificação das policias e o trabalho integrado com

envolvimento federal. Melhoria do sistema penitenciário e a não redução da maioridade penal.

[18]    no campo social, defendo os programas de transferência de renda, para todas as

pessoas que estejam em situações de vulnerabilidade socioeconômica, agregado a políticas de

geração de emprego e renda;

[19]    defendo a garantia dos direitos civis da comunidade LGBT e sou a favor que seja

assegurado o direito ao casamento das pessoas do mesmo sexo;

[20]    quero que seja amplamente discutido as questões de saúde em relação ao aborto;

[21]    quero que seja amplamente discutido as questões em relação ao uso da maconha.

[22]    Adianto que não sou uma pessoa de verdades absolutas, e procuro ouvir todos os

lados, e construir ideias baseadas em princípios de equidade e justiça social, sem dogmas

fundamentalistas, políticos ou religiosos.

[23]    Digo aos conservadores que o mundo evolui inevitavelmente para as políticas

inclusivas e socialmente comprometidas para as pessoas discriminadas historicamente. Evolui

diminuindo desigualdades de gênero, de raça, de idade, de orientação sexual, de classe social.

Quem for na direção contrária, mesmo que por convicção ideológica, aviso: está indo contra o

mundo atual, socialmente desenvolvido, e civilizado.

[24]    Por último, minha intenção com esse texto não é indicar candidato, nem partido, mas

que possamos fazer uma reflexão coletiva e sejamos mais tolerantes e mais respeitosos ao

pensamento divergente ao nosso, e que sejamos mais exigentes com nossos políticos em defesa de

discussões de ideias concretas com menos ofensa ou agressividade.

[25]    Vejo muitos amigos eleitores exercitarem o ódio através de palavras.

Precisamos amadurecer muito politicamente enquanto país, e isso depende de cada um de nós,

não dos políticos. Estes continuarão fazendo seu jogo (velho).

[26]    Como dizem meus colegas do médicos de família, "que venham os tomates", só não

aceito com ódio e intolerância, nem com patrulhamento ideológico, nem caça às bruxas.

[27]    Estou à disposição para discutir ideias e políticas de estado.

[28]    E aí, será que estou só nesta forma de refletir o nosso país?

[29]    Saudações democráticas

*Thiago Gomes da Trindade é médico de Família e Comunidade, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, professor dos Cursos de Medicina da UFRN e da UnP. 

No trecho "Sei que isso faz parte do jogo político, mas nós eleitores não podemos cair no canto da sereia dos candidatos, que na maioria das vezes fazem campanha pelo poder, então para eles vale tudo. "(6º parágrafo), só podemos trocar o termo em destaque, sem prejuízo para o sentido original do texto, por

a

porém

b

por isso

c

portanto

d

dessa forma

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