Texto
As nove cantoras
paralíticas
Enquanto as filhas depositavam os panos de aniagem no vaso enorme, o velho
meneava a cabeça num ritmo alegre, contando para o animal de estimação uma
história tantas vezes por ele já ouvida.
As meninas, em número de nove, são as famosas cantoras do sítio. Famosas
[5] não só pelo fato de serem paralíticas, mas em virtude do raro talento que as domina.
Podem cantar meses a fio, sem cansaço, tendo a melodia a força de manter os
habitantes em absoluto silêncio durante o longo período das canções.
Um detalhe não passou desapercebido ao viajante Marcola que, segundo
contam, há muito viera ao lugarejo realizar um negócio rendoso com Arfan, o
[10] comprador de seda: as nove cantoras jamais envelhecem; sempre a mesma voz e
beleza.
Preocupado, pois justo é o receio de provocar desconfianças, Marcola investiga,
percorrendo as casas dos amigos e conhecidos com o objetivo de obter alguma
informação fiel. Após intensos contatos toma conhecimento de que uma senhora, de
[15] nome Falma, poderia revelar o segredo.
Procurou-a, pela manhã, no quartinho onde costurava e bordava. Perguntou,
inicialmente, se desejava perfumes e lenços finos. Retirou-se após a insistência, para
não causar embaraços.
Fonte: Prade, Péricles. Os milagres do cão Jerônimo; Alçapão para gigantes / Péricles Prades. 1ª ed.,1.reimp. – Florianópolis: Editora da UFSC, 2019.pp.15 e 16.
Em relação ao Texto, assinale a alternativa incorreta.
Da leitura da estrutura “Perguntou, inicialmente, se desejava perfumes e lenços finos” (linhas 16 e 17), infere-se que Marcola não podia questionar diretamente Falma sobre o segredo das cantoras paralíticas, devendo usar da “malandragem” de vendedor.
Nas estruturas “se desejava perfumes” (linha 17) e “Retirou-se após a insistência” (linha 17) as palavras destacadas são, morfologicamente, conjunção subordinativa integrante e índice de indeterminação do sujeito, na sequência.
As palavras “rendoso” (linha 9), “envelhecem” (linha 10), “beleza” (linha 11) e “desconfianças” (linha 12) quanto à formação de palavras são, sequencialmente, derivação sufixal, derivação parassintética, derivação sufixal e derivação prefixal.
Em “Procurou-a, pela manhã” (linha 16) a palavra destacada, na morfossintaxe, é pronome pessoal oblíquo e objeto direto.
A ambiguidade está relacionada ao modo como os elementos de uma frase estão organizados, podendo possibilitar mais de uma interpretação, como ocorre, por inferência, em “o velho meneava a cabeça num ritmo alegre, contando para o animal de estimação, uma história tantas vezes por ele já ouvida” (linhas 1 a 3).