Unit-AL Demais Cursos 2019/2

TEXTO:

 

    As grandes cidades do nosso tempo são
também o lugar onde a ética da competição e a
pressão pelo status mais depressa conduzem ao
individualismo aberto e possessivo, ao mesmo tempo
[5] que a massificação materialista termina por levar
à fragmentação e à perda da individualidade.
Morosidade, mau humor, hostilidades dissimuladas ou
ostensivas, desordens psicológicas, violências, crimes
são sintomas diversos de uma mesma síndrome e se
[10] encontram num mesmo lugar social, que é o medo.
Há medos urbanos de toda natureza: objetivos e
subjetivos, individuais e coletivos, ocasionais e
permanentes, medos fundados e infundados. Eles
habitam o cotidiano dos cidadãos e o envolvem num
[15] drama. A cidade do medo termina por criar, todos os
dias, novos medos.
    O maior medo é, sem dúvida, o medo da pobreza
e o medo dos pobres. Isso é grave, porque acabamos
sendo mais medrosos das vítimas que mesmo das
[20] causas da miséria. Sendo assim, teremos de nos
preparar para viver sob temores ainda mais vastos e
profundos, porque, no maravilhoso mundo novo que
agora nos preparam, as grandes cidades no Brasil
serão ainda maiores e mais carregadas de miséria. [...]
[25]    De muito pouco adianta blaterar contra o
tamanho excessivo das cidades ou providenciar
estatísticas que façam crer que elas vão parar de
crescer. O que, em primeiro lugar, urge fazer é tomar
as cidades e a urbanização como realmente elas
[30] são e empreender o que há muito tempo se deixou
de fazer, isto é, um exame sistêmico estrutural do
fenômeno, como coisa global que ele é. Cabe, em
segundo lugar, formular cenários de longo prazo,
cujo conteúdo seja forçosamente menos urbanístico
[35] e mais de natureza econômica, social e política. [...]
    No seu movimento atual, as grandes cidades
brasileiras já apontam, aliás, para o futuro. Para
ficar num só exemplo, a enorme extensão territorial
é agravada pela imobilidade absoluta ou relativa a
[40] que são condenados os habitantes mais pobres.
Ficam, desse modo, ainda mais pobres, subordinados
à lei do mercado quanto ao emprego e quanto à
disponibilidade de bens e serviços, mais raros e mais
caros, nas frações da cidade onde se encontram
[45] virtualmente confinados. Pode-se até imaginar que, a
prosseguir como vamos, as grandes cidades serão tão
fragmentadas material e socialmente quanto já o são
hoje os seus moradores. Todavia, tal fragmentação
pode levar à recriação de uma vida coletiva local, não
[50] independente da aglomeração como um todo, 

mas representativa das condições de vida reinantes
em cada fragmento. [...] O que precisamos, antes do
mais, é procurar soluções nacionais integradas dos
fatores econômicos, sociais e políticos e que ajudem
[55] a transformar as regiões metropolitanas atuais em
verdadeiras regiões de cidades, ou, ainda melhor,
em autênticas federações urbanas, onde o ponto de
partida e o objetivo final seja esta categoria humana
praticamente inexistente no Brasil: o cidadão. 

SANTOS, Milton. O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: Publifolha, s.d. p. 126-128.

Sendo assim, teremos de nos preparar para viver sob temores ainda mais vastos e profundos, porque, no maravilhoso mundo novo que agora nos preparam, as grandes cidades no Brasil serão ainda maiores e mais carregadas de miséria.” (l. 20-24)

 

Sobre esse fragmento, é correto afirmar:

a

“Sendo assim” tem o mesmo sentido de Todavia.

b

“teremos de nos preparar” expressa a ideia de obrigatoriedade. 

c

“para” e “sob” exprimem a mesma ideia de lugar. 

d

“ainda”, nas duas ocorrências, denota intensidade. 

e

“mais”, nas duas situações, indica quantidade.

Ver resposta
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Resposta
B

Resolução

Para resolver a questão, siga estes passos:

  1. Identifique o fragmento: “Sendo assim, teremos de nos preparar para viver sob temores ainda mais vastos e profundos, porque, no maravilhoso mundo novo que agora nos preparam, as grandes cidades no Brasil serão ainda maiores e mais carregadas de miséria.”
  2. Observe o conectivo “Sendo assim”: trata-se de uma locução conjuntiva que introduce conclusão ou consequência, e não oposição.
  3. Analise a expressão “teremos de nos preparar”: o segmento “ter de + infinitivo” funciona como perífrase modal de obrigação.
  4. Avalie “para” e “sob”: “para” indica finalidade/destino (“preparar para viver”), enquanto “sob” indica condição ou circunstância (“viver sob temores”). São preposições com valores semânticos distintos.
  5. Confira “ainda”: na primeira ocorrência intensifica o comparativo (“ainda mais vastos e profundos”); na segunda, indica continuidade ou acréscimo temporal (“serão ainda maiores”), não exatamente intensidade.
  6. Verifique “mais”: no primeiro caso reforça um grau comparativo de intensidade; no segundo forma o comparativo de superioridade de quantidade ou extensão (“maiores e mais carregadas de miséria”). Nem sempre equivale a quantidade.

Com isso, apenas a opção B descreve corretamente a função sintática e semântica de “teremos de nos preparar” como ideia de obrigatoriedade.

Dicas

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Observe o sentido de consequência/conclusão de “sendo assim”.
Analise a construção verbal “teremos de + infinitivo” e compare com “ter que” e “dever”.
Diferencie o valor semântico de ‘para’ (finalidade) e ‘sob’ (condição).

Erros Comuns

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Confundir locução conjuntiva de conclusão (‘sendo assim’) com conjunção adversativa (‘todavia’).
Interpretar ‘ter de + infinitivo’ como simples futuro em vez de obrigação.
Considerar ‘para’ e ‘sob’ como sinônimos de lugar.
Entender ‘ainda’ invariavelmente como intensificador, sem observar valor temporal/contínuo.
Revisão

1. Conjunções e locuções conjuntivas
Palavras ou expressões que estabelecem relações de sentido (oposição, causa, consequência, conclusão etc.). Ex.: “porém” (adversativa), “logo” (conclusiva), “sendo assim” (conclusiva).

2. Perífrases modais de obrigação
Formações verbais como “ter de”, “ter que”, “dever” + infinitivo exprimem necessidade ou obrigação: “temos de estudar”.

3. Funções das preposições
“Para” pode indicar finalidade/destino; “sob” pode indicar estado, condição ou circunstância.

4. Advérbios e intensificadores
“Ainda” pode reforçar intensidade (advérbio de grau) ou indicar continuidade temporal; “mais” pode indicar grau comparativo de qualidade ou quantidade.

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