TEXTO
ADORMECIDA
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
[5] 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
[10] Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
lam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
[15] Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
[20] Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
[25] Eu, fitando a cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
“Virgem! — tu és a flor da minha vida!...”
CASTRO ALVES. Espumas flutuantes. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 124-125.
Assinale a alternativa INCORRETA em relação à análise do poema de Castro Alves (Texto).
A valorização de elementos da natureza confere sentidos particulares ao poema e indicia sua identificação com propostas estéticas do Romantismo.
O poema se organiza a partir de um episódio registrado pela memória do sujeito lírico, o que amplia a subjetividade romântica presente em seu discurso.
O poema se constitui, principalmente, como descrição de uma cena, repleta de elementos românticos, configurando-se de forma plástica e visual.
O poema é percorrido por um tom melancólico, próprio do Romantismo, empregado pelo poeta para expressar a frustração amorosa do eu lírico.
O ambiente noturno, privilegiado pelos poetas românticos, contribui, no poema, para o estabelecimento de uma atmosfera de sonho, de calma e de desejo.