TEXTO
‘A única coisa que não pode ser comprada é o saber’,
diz Nuccio Ordine
por Leonardo Cazes
RIO - Na abertura dos seus cursos na
Universidade da Calábria, na Itália, o filósofo Nuccio
Ordine sempre pergunta aos seus alunos: “por que vocês
vieram para a universidade?”. A provocação de Ordine
[5] parte da sua constatação de que as instituições de ensino
se tornaram meras fábricas que despejam jovens
diplomados no mercado de trabalho, e não lugares aonde
se vai para compreender o mundo e a si mesmo.
Contra uma visão utilitarista dos saberes, o
[10] filósofo escreveu o manifesto “A utilidade do inútil” (...),
best-seller na Europa que chega agora ao Brasil.
Como convencer as pessoas da utilidade do
que é considerado inútil?
[15] É preciso olhar o mundo em que vivemos, onde
a lógica do dinheiro domina tudo. A única coisa que não
pode ser comprada é o saber. Não é possível se tornar
um homem culto com um cheque em branco. Criamos um
mundo onde as pessoas pensam apenas no seu próprio
[20] egoísmo. Perdeu-se de vista o sentido da solidariedade
humana. Um mundo que nos obriga a viver na dor é um
mundo possível? Eu não acredito. Os saberes, como a
música, a literatura, a filosofia, a arte, nos ensinam a
importância da gratuidade. Devemos fazer coisas que não
[25] buscam o lucro. A dignidade humana não é a conta que
temos no banco. A dignidade humana é a nossa
capacidade de abraçar os grandes valores, a
solidariedade, o amor pela justiça, o bem-estar. Como
convencer as pessoas disso? Meu argumento é que
[30] estamos numa rota autodestrutiva.
No livro, o senhor mostra que a discussão
sobre o utilitarismo e o poder do dinheiro existe há
séculos. O que há de diferente hoje?
[35] Desde o período clássico, vários autores
refletiram sobre o perigo do dinheiro. Mas, hoje, nós
temos uma radicalização na busca pelo lucro que se
tornou uma forma de autodestruição do próprio
capitalismo. É a ânsia de ganhar mais e mais que vai
[40] destruir o capitalismo.
(O Globo, Segundo Caderno, p. 06 – 27/02/2016.)
Sobre o texto, é correto inferir que
as interrogações ao longo do texto (ℓ. 3 e 4; 21 e 22; 28 e 29) têm o mesmo objetivo: propor um problema sobre o qual o leitor vai refletir e tirar conclusões.
o entrevistado se dirige a um público especializado no assunto enfocado, por isso se vale da norma padrão da língua e de construções sintáticas mais complexas.
Nuccio Ordine preocupa-se em se aproximar de seu público-alvo, por isso, em suas respostas ao entrevistador, opta pelo emprego da primeira pessoa do plural.
o entrevistador mostra-se pouco preparado para a condução da entrevista, fazendo perguntas óbvias e demonstrando falta de familiaridade com o assunto.