Texto A
Perdoe-nos a amável leitora ou o gentil leitor, mas
as convenções que regem a feitura de um romance
em nossa época diferem grandemente das vigentes
no século XIX, que permitiam a um narrador externo,
[5] no momento da escrita, esta conversa direta com quem
iria passar os olhos pela futura página impressa. Essas
coisas que o linguista Roman Jakobson mais tarde
chamaria de função fática da linguagem, que serve
apenas para manter o contato e frisar: “sim, não adianta
[10] ‘fingir, somos pessoas nos comunicando e sabemos
disso.” Como o alô que se dá ao atender ao telefone,
ou o cacoete do professor que fica repetindo ‘tão
entendendo? Depois que os romancistas ingleses do
século XVIII descobriram essa possibilidade sedutora
[15] e difícil, dando ocasionais piscadelas ao leitor, ela virou
moda e mania e foi usada à exaustão. [...] Mas a
posterior tendência a transformar esse recurso em
clichê não impediu que aqui mesmo, nesta cidade,
Machado de Assis elevasse esse procedimento à
[20] categoria de obra-prima, transformando-o num dos
traços mais típicos e deliciosos de seu estilo.
MACHADO, Ana Maria. A audácia dessa mulher. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Adobe Digital Editions. World Wide Web. Cap. 2, p. 14.
Texto B
Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que
adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado
em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três
dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em
[5] capítulo especial, é provável que me perguntes se ele,
se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e
por que antes um que outro, – questão prenhe de
questões, que nos levariam longe... Eia! chora os dous
recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso,
[10] ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro, que a linda Sofia
não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto
para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.
MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. In: ____. Obra completa. Vol. I. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971. p. 806.
Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas que tratam da referência presente no título da obra de onde foi extraído o Texto B.
( ) O filósofo Quincas Borba, amigo do personagem principal dessa obra, Rubião, tem sua morte narrada no último capítulo, reproduzido no Texto B.
( ) Quincas Borba é o nome de um cão e de seu antigo dono que, ao atribuir o próprio nome a seu animal de estimação, pretendia sobreviver nele.
( ) Quincas Borba é o nome de um filósofo que fez de Rubião herdeiro de seus bens, com o compromisso de tomar conta de seu cão de estimação.
( ) A proposta filosófica do humanitismo, criada por Quincas Borba, sobre a sobrevivência dos mais fortes, é exemplificada pela fraqueza e pelo fracasso de Rubião, seu herdeiro.
( ) Constituindo um dos elementos da trilogia de romances de Machado de Assis, a trama do romance Quincas Borba tem sua continuidade no romance seguinte, do autor, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a
F V F V V
V V F V F
V V V F F
V F V F V
F V V V F