TEXTO
A Morte não
existe para os mortos
Os mortos não
têm medo da morte desabrochada.
[5] Os mortos
conquistam a vida, não
a lendária, mas
a propriamente dita
a que perdemos
[10] ao nascer.
A sem nome
sem limite
sem rumo
(todos os rumos, simultâneos,
[15] lhe servem)
completo estar-vivo no sem fim
de possíveis
acoplados.
A morte sabe disto
[20] e cala.
Só a morte é que sabe
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Vida depois da vida. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1979. p. 461.
Os versos destacados “A Morte não /existe para os mortos” (v. 1-2) e “ Os mortos/ conquistam a vida” (v. 5-6), dentro do contexto do poema, é improcedente afirmar:
Ocorre um deslize de sentido nos versos, em virtude da sua falta de coerência lógica.
Há um jogo sutil de palavras que desfaz a ideia de oposição entre "mortos" e "vida" nos versos 5 e 6.
Existe uma relação semântica de consequência e causa, respectivamente, entre os pares de versos na dupla destacada.
Registra-se uma figura de linguagem em "Morte", com letra maiúscula, identificada como personificação, atribuindo-lhe individualização.
Reconhece-se que a palavra "mortos", nas duas situações, é ressignificada pelo eu lírico, ampliando seu sentido original.