TEXTO
A Marselhesa do subúrbio
Sérgio Martins
Tchudum, tchá, tchá, tchá, tchá, tchudum, tchá,
tchá, tchá, tchá, tchudum... São 2 horas da manhã
numa casa noturna de São Paulo e os frequentadores
estão dançando uma batida eletrônica repetitiva. Dali a
[5] uma hora e meia, MC Guimê, o principal nome do funk
ostentação, fará seu show, acompanhado de um DJ e
de duas dançarinas, e com a participação especial do
rapper Emicida. /.../ Encontram-se ali jovens de bairros
suburbanos – os meninos com correntes douradas, as
[10] meninas com saia bem curtinha, e todos com roupas de
grife – e também os chamados “playboys”. Quando
Guimê finalmente sobe ao palco, a temperatura da casa
parece subir. Por quarenta minutos, ele intercala
canções de seu repertório com sucessos de outros
[15] funkeiros, canta o rap do quarteto Racionais MC’s e cita
o Salmo 23 (“O senhor é meu pastor / Nada me faltará”).
Nada falta mesmo: suas letras carregam uma tal
profusão de marcas – carros, roupas, perfumes, bebidas
– que até se poderia suspeitar de vultosos contratos de
[20] merchandising. Não é o caso. Para Guimê, natural da
periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, falar
desses objetos de consumo – e, acima de tudo, adquirilos
– é uma aspiração realizada, uma senha para a
entrada na sociedade. O público não só entende como
[25] compartilha o sonho de Guimê: muitos fãs, no meio da
dança, erguem garrafas de uísque escocês como se
fossem troféus. Festas e shows assim se repetem por
outras cidades e clubes. Como tantos gêneros musicais
que vieram das áreas urbanas mais pobres, o funk já
[30] conquistou parte da classe média. Mas é sobretudo
entre a garotada da periferia que ele tem a ressonância
de uma Marselhesa: um hino de cidadania e identidade
para os jovens das classes C, D e E. /.../
(Revista Veja, 29 de janeiro de 2014, p. 73 e 74)
Após a leitura atenta do texto, analise as afirmativas abaixo e assinale aquela que contém comentários adequados em relação a ele.
O texto se divide em duas partes: a primeira é narrativa, iniciando-se na (l. 1) e terminando na (l. 24); a segunda é dissertativa e se inicia na (l. 24), indo até a (l. 33).
Não só o funk, mas outros gêneros musicais advindos das periferias conquistaram a classe média. Entretanto, é ainda para as classes urbanas mais pobres que esse gênero musical constitui um hino de cidadania e identidade.
O texto se constrói narrando como acontece um evento musical direcionado para as classes C,D,E que os “playboys”, jovens de bairros suburbanos, frequentam ostentando correntes douradas, roupas curtas e de grife, imitando os seus ídolos.
A aquisição de bens de consumo caros realizada pelos MCs, dos quais Guimê é o maior representante, se dá em função da propagação de marcas famosas em suas letras, por meio de contratos milionários para tal.