TEXTO 6
O Poeta da Roça
160. Sou fio das mata, cantô da mão grosa
161. Trabaio na roça, de inverno e de estio
162. A minha chupana é tapada de barro
163. Só fumo cigarro de paia de mio
164. Sou poeta das brenha, não faço o papé
165. De argum menestrê, ou errante cantô
166. Que veve vagando, com sua viola
167. Cantando, pachola, à percura de amô
168. Não tenho sabença, pois nunca estudei
169. Apenas eu seio o meu nome assiná
170. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre
171. E o fio do pobre não pode estudá
171. Meu verso rastero, singelo e sem graça
172. Não entra na praça, no rico salão
173. Meu verso só entra no campo da roça e
174. [dos eito
175. E às vezes, recordando feliz mocidade
176. Canto uma sodade que mora em meu peito.
177. [...]
178. Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
179. Coberto de trapo e mochila na mão,
180. Que chora pedindo o socorro dos home,
181. E tomba de fome, sem casa e sem pão.
182. E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
183. Eu vivo contente e feliz com a sorte,
184. Morando no campo, sem vê a cidade,
185. Cantando as verdade das coisa do Norte.
Adaptada de ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá: Filosofia de um trovador nordestino. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 1978.
A poesia de Patativa do Assaré, ao primeiro contato, demonstra uma preocupação em construir uma identidade sertaneja. No texto 6, esta característica é observável, de forma mais evidente, em