TEXTO 4
Baleia
[1] A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários
pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e
sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a
comida e a bebida.
[5] Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e
amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de
mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os
mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base,
cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.
[...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 82ª ed. São Paulo: Record, 2001, p. 85.)
No Texto 4, o autor faz um retrato da cachorra Baleia: apreendendo os elementos em uma ordem coerente, caracteriza-os objetivamente, para transmitir sentimento.
Em relação a isso, assinale a alternativa correta.
Na descrição da Baleia, o narrador busca criar uma imagem concreta, retratando as características dos cães descritos nas obras literárias que marcaram o início do Modernismo.
Por se tratar de uma obra ficcional, o narrador busca a fuga do real, criando, na sua descrição, uma linguagem com termos fortes e distantes daquela realidade.
O narrador faz uma descrição usando uma linguagem que procura mostrar a tendência de incorporar a realidade à obra ficcional, assinalando uma característica encontrada apenas na estética moderna.
A linguagem e a forma usadas pelo autor para descrever o estado em que a cachorra Baleia se encontra sugerem, embora a obra esteja ambientada no Modernismo, características da estética naturalista.
O autor faz uma descrição bem real no início do excerto; mas, a partir do terceiro período, passa a distanciar-se da realidade.