Texto 2: Vídeos falsos confundem o público e a imprensa
Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado
[1] Cerca de duas horas depois da divulgação dos atentados de terça-feira (22/03) em Bruxelas,
apareceu um vídeo no YouTube, sob a alegação de que seriam imagens do circuito fechado de televisão
(CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto Zaventem, da cidade. As imagens rapidamente se
espalharam pelas redes sociais e foram divulgadas por alguns dos principais sites de notícias. Depois desse,
[5] surgiu outro vídeo, supostamente mostrando uma explosão na estação de metrô Maelbeek, próxima ao
Parlamento Europeu, e ainda um outro, alegando ser do aeroporto.
Entretanto, nenhum dos vídeos era o que alegava ser. Os três vídeos eram gravações de 2011, dois
de um atentado ao aeroporto Domodedovo, de Moscou, e um de uma bomba que explodiu numa estação de
metrô de Minsk, capital da Belarus
[10] As imagens distorcidas dos clipes do circuito fechado de televisão foram convertidas de cor em
preto e branco, horizontalmente invertidas, novamente etiquetadas e postadas como se tivessem surgido dos
acontecimentos do dia. Embora a conta do YouTube que compartilhou as imagens com falsos objetivos tenha
sido rapidamente tirada do ar, outros veículos as reproduziram dizendo que eram de Bruxelas.
Os vídeos ilusórios são exemplos de um fenômeno que vem se tornando cada vez mais comum em
[15] quase todas as matérias importantes que tratam de acontecimentos violentos e que ocorrem rapidamente.
Reportagens falsas ou ilusórias espalham-se rapidamente pelas redes sociais e são acessadas por
organizações jornalísticas respeitáveis, confundindo ainda mais um quadro já incrivelmente confuso.
A disseminação e divulgação de falsas informações não têm nada de novo, mas a internet tornou
mais fácil plantar matérias e provas falsas e ilusórias, que serão amplamente compartilhadas pelo Twitter e
[20] pelo Facebook.
Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, que é uma coalizão de organizações que se
especializam em checar informações e conta com o apoio do Google, disse que parte do problema é que
qualquer pessoa que publique em plataformas como o Facebook tem a capacidade de atingir uma audiência
tão ampla quanto aquelas que são atingidas por uma organização jornalística. “Pode tratar-se de alguém
[25] tentando desviar propositalmente a pauta jornalística por motivos políticos, ou muitas vezes são apenas
pessoas que querem os números, os cliques e os compartilhamentos porque querem fazer parte da conversa
ou da validade da informação”, disse ele. “Eles não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o mesmo tipo
de distribuição.”
Nesse meio tempo, a rápida divulgação das notícias online e a concorrência com as redes sociais
[30] também aumentaram a pressão sobre as organizações jornalísticas para serem as primeiras a divulgar cada
avanço, ao mesmo tempo em que eliminam alguns dos obstáculos que permitem informações equivocadas.
Uma página na web não só pode ser atualizada de maneira a eliminar qualquer vestígio de uma
mensagem falsa, mas, quando muitas pessoas apenas se limitam a registrar qual o website em que estão
lendo uma reportagem, a ameaça à reputação é significativamente menor que no jornal impresso. Em muitos
[35] casos, um fragmento de informação, uma fotografia ou um vídeo são simplesmente bons demais para checar.
Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais pressão junto a algumas organizações para agirem
rapidamente, para clicar, para ser a primeira… E há, evidentemente, uma pressão comercial para ter aquele
vídeo fantástico, aquela foto fantástica, para ser de maior interesse jornalístico, mais compartilhável e tudo
isso pode se sobrepor ao desejo de ser certo.”
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)
No primeiro período do sexto parágrafo, a palavra QUE constitui pronome relativo, EXCETO em
[...] que é uma coalizão [...] (linha 21)
[...] que se especializam [...] (linhas 21-22)
[...] que parte do problema [...] (linha 22)
[...] que publique em plataformas [...] (linha 23)
[...] que são atingidas por uma organização jornalística. (linha 24)