Texto 2
(O texto 2 foi extraído da obra Capitães da areia, de Jorge Amado, que conta a triste história de um grupo de crianças e adolescentes que vivem na rua, conhecidos como “capitães da areia”. À noite, recolhem-se para dormir num velho trapiche abandonado. O grupo pratica pequenos furtos para sobreviver, e seus membros se unem para defender-se da perseguição da polícia. Quando presos, são encaminhados para reformatórios, onde sofrem toda sorte de abusos.
O grupo, formado somente de meninos, recebeu, um dia, uma menina chamada Dora, de treze para catorze anos, cuja mãe morrera. Com o irmão, Zé Fuinha, ela foi para a rua, onde conheceu a turma dos Capitães da Areia e nela se integrou. Dora, uma menina loura e bonita, disposta para o trabalho, acabou conquistando todos: era mãe para os pequenos, e amiga e irmã para os mais velhos, alguns dos quais se apaixonaram por ela. Mas ela amava mesmo era o chefe dos Capitães, o valente Pedro Bala. Presa e recolhida a um orfanato, até que o namorado a resgatasse e a levasse para o velho trapiche, adoeceu e morreu. Horas antes de morrer, pediu a Pedro Bala que a fizesse mulher. Ele hesitou porque a via muito doente, mas, por fim, atendeu ao seu pedido. Na manhã seguinte, ela estava morta.
O capítulo que você vai ler narra a reação desesperada de Pedro Bala logo depois que levam o corpo de sua amada para alto mar, onde finalmente repousará.)
Contam no cais da Bahia que quando
Assim foi com Zumbi, com Lucas da Feira,
[90] com Besouro, todos os negros valentes. Mas
nunca se viu o caso de uma mulher, por mais
valente que fosse, virar estrela depois de
morta. Algumas, como Rosa Palmeirão, como
Maria Cabaçu, viraram santas nos candomblés
[95] de caboclo. Nunca nenhuma virou estrela.
Pedro Bala se joga na água. Não pode ficar
no trapiche, entre os soluços e as
lamentações. Quer acompanhar Dora, quer ir
com ela, se reunir a ela nas Terras do Sem
[100] Fim de Yemanjá. Nada para diante sempre.
Segue a rota do saveiro do Querido-de-Deus.
Nada, nada sempre. Vê Dora em sua frente,
Dora, sua esposa, os braços estendidos para
ele. Nada até já não ter forças. Boia, então, os
[105] olhos voltados para as estrelas e a grande lua
amarela, do céu. Que importa morrer quando
se vai em busca da amada, quando o amor
nos espera?
Que importa tampouco que os astrônomos
[110] afirmem que foi um cometa que passou sobre
a Bahia naquela noite? O que Pedro Bala viu
foi Dora feita estrela, indo para o céu. Fora
mais valente que todas as mulheres, mais
valente que Rosa Palmeirão, que Maria
[115] Cabaçu. Tão valente que antes de morrer,
mesmo sendo uma menina, se dera ao seu
amor. Por isso virou uma estrela no céu. Uma
estrela de longa cabeleira loira, uma estrela
como nunca tivera nenhuma na noite de paz
[120] da Bahia.
A felicidade ilumina o rosto de Pedro Bala.
Para ele veio também a paz da noite. Porque
agora sabe que ela brilhará para ele entre mil
estrelas no céu sem igual da cidade negra.
[125] O saveiro do Querido-de-Deus o recolhe.
(AMADO, Jorge. Capitães da areia. 15 ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1967. p. 250-251.)
Atente para o que se diz sobre o seguinte excerto e alguns de seus elementos: “A felicidade ilumina o rosto de Pedro Bala. Para ele veio também a paz da noite” (linhas 121–122).
I. A partícula “também”, no trecho transcrito, indica que alguém sentira aquela paz antes dele, sugere, portanto, inclusão.
II. O pronome “ele” refere-se a “o rosto de Pedro Bala”.
III. O verbo “iluminar” foi empregado no sentido de tornar claro.
Está correto o que se diz apenas em
II.
I e III.
II e III.
I.