TEXTO 2
Leôncio achara desde a infância nas larguezas e facilidades de seus pais amplos meios de corromper o coração e extraviar a inteligência. Mau aluno e criança incorrigível, turbulento e insubordinado, andou de colégio em colégio, e passou como gato por brasas por cima de todos os preparatórios, cujos exames todavia sempre salvara à sombra do patronato. [...] Matriculado na escola de medicina logo no primeiro ano enjoou-se daquela disciplina, e como seus pais não sabiam contrariá-lo, foi-se para Olinda a fim de freqüentar o curso jurídico. Ali depois de ter dissipado não pequena porção da fortuna paterna na satisfação de todos os seus vícios e loucas fantasias, tomou tédio também aos estudos jurídicos, e ficou entendendo que só na Europa poderia desenvolver dignamente a sua inteligência [...] Assim escreveu ao pai, que lhe deu crédito e o enviou a Paris [...] Instalado naquele vasto pandemônio do luxo e dos prazeres, Leôncio raras vezes [...] ia ouvir as eloqüentes preleções dos exímios professores da época, e nem tampouco era visto nos museus, institutos e bibliotecas. Em compensação era assíduo freqüentador [...] de todos os cafés e teatros mais em voga [...]. No fim de alguns anos, [...] tinha ele tão copiosa e desapiedadamente sangrado a bolsa paterna, que o comendador [...] viu-se na necessidade de revocá-lo à sombra dos pátrios lares a fim de evitar uma completa ruína. [...] para não magoá-lo [...], assentou de atraí-lo suavemente acenando-lhe com a perspectiva de um rico e vantajosíssimo casamento. Leôncio pegou na isca e voltou à pátria [...] trazendo de suas viagens, em vez de conhecimentos e experiência, enorme dose de fatuidade e petulância [...]. Mas o pior era que, se trazia o cérebro vazio, voltava com a alma corrompida e o coração estragado por hábitos de devassidão e libertinagem.
GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/. Acesso em 09 dez. 2013. (Fragmento)
O romance de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura, lançado em 1875, é ambientado na época do império de D. Pedro II, no Rio de Janeiro, alcançando imediato sucesso. O excerto apresentado no Texto 2 retrata o personagem Leôncio, antagonista da heroína Isaura. Identifique, abaixo, a alternativa que descreve a negligência de Leôncio em relação ao aprendizado intelectual.
voltava com a alma corrompida e o coração estragado por hábitos de devassidão e libertinagem.
viu-se na necessidade de revocá-lo à sombra dos pátrios lares a fim de evitar uma completa ruína.
como seus pais não sabiam contrariá-lo, foi-se para Olinda a fim de frequentar o curso jurídico.
passou como gato por brasas por cima de todos os preparatórios, cujos exames todavia sempre salvara à sombra do patronato.
para não magoá-lo [...], assentou de atraí-lo suavemente acenando-lhe com a perspectiva de um rico e vantajosíssimo casamento.