TEXTO 2
Dr. Junqueira é doido pela “Valsa n0 6”!
(dramatizando um velho)
Ah, toca a valsa, minha filha, pelo amor de Deus!
(avança até a boca de cena)
[5] Paulo, eu te odeio, e por quê, Paulo?
(num apelo)
Que fizeste de mim, do meu rosto e dos meus 15 anos?
(feroz)
Se eu pudesse enterrar as unhas na carne macia do teu pescoço!
[10] (suplicante)
Dize, ao menos, o que eu sou de ti?
Noiva?
Prima?
Cunhada?
[15] (exasperada)
Que sou eu de ti?
(triunfante)
Esperem, esperem!
(corre ao piano, e toca a “Valsa n0 6”)
[20] Estou-me lembrando! Aos poucos...
(para a plateia)
Paulo cresce como um lírio espantado...
(desenha, com uma das mãos, o lento crescer do lírio simbólico)
Vejo a testa, as sobrancelhas, os olhos, o puro contorno dos lábios!
[25] (estaca)
Mas tua fisionomia está mutilada!
(num lamento)
Faltam várias feições!
(com deslumbramento)
RODRIGUES, Nelson. Valsa no 6. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2012. p.25
Assinale a alternativa incorreta em relação à obra Valsa no 6, Nelson Rodrigues, e ao Texto 2.
No período “Ah, toca a valsa, minha filha, pelo amor de Deus” (linha 3), quanto à morfologia, as palavras destacadas são interjeição, artigo definido, substantivo comum, pronome possessivo e locução adjetiva, sequencialmente.
Da leitura da estrutura “Que fizeste de mim, do meu rosto e dos meus 15 anos” (linha 7), infere-se que a protagonista dá sinais de perda da memória, envolvendo suas relações afetivas, ao mesmo tempo em que se questiona, por não ter clareza das próprias lembranças.
A repetição dos verbos “Esperem, esperem” (linha 18) representa um momento de lucidez de Sônia ao descobrir-se noiva de Paulo.
No período “Se eu pudesse enterrar as unhas na carne macia do teu pescoço” (linha 9), quanto à figura de linguagem, tem-se catacrese.
Na oração “Dr. Junqueira é doido pela ‘Valsa n0 6’ ” (linha 1), sintaticamente, as palavras e expressões destacadas são, na sequência, sujeito, predicativo do sujeito e complemento nominal.