Texto 2
Barcos de Papel
Quando a chuva cessava e um vento fino
Franzia a tarde úmida e lavada
Eu saía a brincar pelas calçadas
[80] Nos meus tempos felizes de menino.
Fazia de papel, toda uma armada
E, estendendo meu braço pequenino
Eu soltava os barquinhos sem destino
Ao longo das sarjetas, na enxurrada...
[85] Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
Que não são barcos de ouro os meus ideais
São barcos de papel, são como aqueles:
Perfeitamente, exatamente iguais!
Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
[90] Foram-se embora e não voltaram mais.
(Guilherme de Almeida. In Acaso.)
Atente aos dois versos finais do poema e ao que se diz sobre eles.
I. O verbo ir, no pretérito perfeito (foram), foi usado no interior do verso 13 (linha 89) e no início do verso 14 (linha 90), constituindo uma figura de linguagem que tem função textual: reforçar o sentido do verbo ir, sugerindo que os ideais do eu poético se foram de vez, sem possibilidade de retorno.
II. O verbo ir (foram) vem acompanhado do pronome se, primeiro, em posição proclítica, depois, em posição enclítica. Esse pronome não tem função sintática, mas função textual. O pronome repetido é mais um recurso que reforça o desengano do sujeito lírico.
III. Os dois diminutivos do texto – pequenino e barquinhos – indicam apenas dimensão. De fato, os braços de uma criança são realmente pequenos.
Está correto o que se diz somente em
I e III.
II.
I e II.
II e III.