Texto 2
A Internet e a neutralidade da rede
A Internet vista, unanimemente, como o
[45] território livre, a tecnologia libertadora que, em
muitos países, permitiu o florescimento da
cidadania, a ampliação das oportunidades de
educação, o ambiente para novas empresas e
novos empreendedores, para o trabalho
[50] colaborativo em rede.
Graças a seu ambiente libertário,
internacionalmente ajudou a derrubar
ditaduras e monopólios de mídia, o controle da
informação, tanto por governos como por
[55] cartéis.
No entanto, não se considere um modelo
consolidado. Em outros momentos da história
surgiram novas tecnologias, promovendo
rupturas, abrindo espaço para a
[60] democratização e, no momento seguinte,
quedaram dominadas por novos cartéis e
monopólios que se formaram.
Foi assim com o início da telefonia.
Enquanto a Bell Co se consolidava, como
[65] grande companhia nacional, surgiram
inúmeras experiências locais, como a Mesa
Telephone, para localidades rurais norte
americanas, de tecnologia rudimentar porém
útil para ligar comunidades agrícolas.
[70] Nasceram centenas de outras companhias
por todo o país. Esse mesmo modelo
disseminou-se pelo Brasil dos anos 40 em
diante, com companhias municipais levando o
telefone a cidades menores, em um surto de
[75] pioneirismo extraordinário.
Nos Estados Unidos, o movimento dos
"independentes" permitiu às comunidades
rurais estreitar laços, criar amizades, sistemas
de informação, da mesma maneira que as
[80] redes sociais de agora. Através do telefone
desenvolveram noticiários sobre o clima, sobre
a região, relatórios de mercado etc.
Os "independentes" chegaram a ter 3
milhões de aparelhos, contra 2,5 milhões da
[85] Bell.
Com a ajuda do J.P.Morgan, o mais
influente banco da época, a Bell reestruturou
se em torno da AT&T.
Em vez de declarar guerra aos
[90] "independentes", a nova direção propôs um
trabalho conjunto, facilitando para eles as
ligações de longa distância, desde que
trocassem seus sistemas rústicos pelos padrões
Bell. Quem não aderisse, não teria ligações de
[95] longa distância.
Como resultado, a AT&T matou a
concorrência dos "independentes" e construiu
o mais longevo e poderoso monopólio da
história, só desmembrado na década de 1980.
[100] O mesmo processo de concentração se
repetiu no rádio.
No início, o rádio tornou-se uma ferramenta
tão democrática e disseminada quanto a
Internet. Não havia controle e qualquer
[105] pessoa, adquirindo um kit de rádio, montava
sua estação sem fio.
Em 1921 havia 525 estatais transmissoras
nos Estados Unidos. Até o final de 1924, mais
de 2 milhões de aparelhos de rádio. Segundo
[110] Tim Wu, autor do importante "Impérios da
Comunicação", antes da Internet os rádios
foram a maior mídia aberta do século.
Repetiu-se o mesmo processo do telefone.
À medida que aumentava o público e criava
[115] escala, o mercado libertário era enquadrado
pelo poder público e a ocupação do espaço
entregue a grupos particulares.
Hoje em dia, as concessões de rádio se
tornaram ativos de empresas privadas, as
[120] rádios comunitárias são criminalizadas e o
exercício pessoal se restringe aos rádios
amadores.
Esse é o desafio atual da Internet. Se não
for garantida a neutralidade da rede - isto é, o
[125] direito de qualquer site ou pessoa de ter
acesso à rede, sem privilégios - em breve o
grande sonho libertário da Internet terá o
mesmo destino do telefone e do rádio.
Luís Nassif. Coluna Econômica.07/09/2013.
Considere os dois enunciados do último parágrafo e atente ao que se diz sobre eles.
I. O pronome “esse”, pelos ensinamentos da gramática normativa, aponta para o que vem antes dele (enquanto o “este” aponta para o que vem depois). No primeiro enunciado do último parágrafo – “Esse é o desafio atual da internet”, no entanto, o que deveria ter sido dito antes não foi explicitado linguisticamente.
II. Por inferência o leitor fica sabendo qual é o desafio da Internet: conservar-se como um território livre e neutro.
III. “em breve o grande sonho libertário da Internet terá o mesmo destino do telefone e do rádio.” Esse destino consiste em ser a Internet dominada por cartéis (acordos comerciais entre empresas com a finalidade de determinar os preços e limitar a concorrência) e, portanto, passar a ser um espaço privilegiado de liberdade.
Está correto o que se diz apenas em
I e III.
III.
II e III.
I e II.