Texto 2
A completude não existe
Vira e mexe ouço alguém dizer:
“Fulano não me completa”. Como se a
[120] completude existisse. Trata-se de um mito
originário da Grécia que se perpetua no
nosso imaginário. Segundo o mito, nos
primórdios, a forma humana era uma
esfera com quatro mãos, quatro pernas,
[125] duas cabeças e dois sexos. Os seres
humanos se deslocavam para a frente e
para trás e, ao correr, giravam sobre os
oito membros. Seu orgulho e sua força
eram tamanhos que, para enfraquecê-los,
[130] Zeus os cortou pela metade. Para os
gregos, o corte deu origem ao amor, que
junta as metades e de dois seres faz um.
Num de seus seminários, Lacan
retomou esse mito para ensinar que, na
[135] verdade, o amor é “o desejo impossível de
ser um quando há dois”. Noutras palavras,
é o desejo impossível da completude já
que o desejo de um sujeito nunca coincide
inteiramente com o do outro. A
[140] coincidência que o amante pode celebrar é
a da crença na liberdade do amado. Uma
crença que se expressa assim: “Faça o
que você deseja porque o seu desejo é o
meu”. Com ela, a relação se renova
[145] continuamente e se perpetua, torna-se
possível.
Isso significa que o egoísmo é
incompatível com o amor e este requer
uma educação especial. Que o próprio
[150] amor, aliás, oferece, porque ele torna os
amantes inteligentes. A paixão cega, mas
o sentimento amoroso ilumina. O amante
não precisa perguntar ao amado o que
este quer, pois quem ama sabe a
[155] resposta. […]
(Betty Milan. Veja. 1/04/2010. Edição 2161, an° 43, no 16.)
Indique a opção que expressa a ideia que poderia constituir o sujeito do verbo tratar no enunciado “Trata-se de um mito originário da Grécia que se perpetua no nosso imaginário”. (linhas 120-122)
A concepção do ser humano como uma esfera.
A ideia de o amor se originar da divisão de uma esfera.
A crença na possibilidade da completude.
A ilusão de o amor fazer de dois seres um só ser.