UERR 2020

TEXTO

 

16 DE JULHO Levantei. Obedecia a Vera Eunice. Fui buscar agua. Fiz café. Avisei as crianças que não tinha pão. Que tomassem café simples e comesse carne com farinha. Eu estava indisposta, resolvi benzer-me. Abria a boca duas vezes, certifiquei-me que estava com mau olhado. A indisposição desapareceu sai e fui ao seu Manoel levar umas latas para vender. Tudo quanto eu encontro no lixo eu cato para vender. Deu 13 cruzeiros. Fiquei pensando que precisava comprar pão, sabão e leite para a Vera Eunice. E os 13 cruzeiros não dava! Cheguei em casa, aliás no meu barracão, nervosa e exausta. Pensei na vida atribulada que eu levo. Cato papel, lavo roupa para dois jovens, permaneço na rua o dia todo. E estou sempre em falta. A Vera não tem sapatos. E ela não gosta de andar descalça. Faz uns dois anos, que eu pretendo comprar uma maquina de moer carne. E uma maquina de costura.

 

Cheguei em casa, fiz o almoço para os dois meninos. Arroz, feijão e carne. E vou sair para catar papel. Deixei as crianças. Recomendei-lhes para brincar no quintal e não sair na rua, porque os pessimos vizinhos que eu tenho não dão socego aos meus filhos. Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o privilegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte (...) Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha. Vinha pensando. Quando eu chegar na favela vou encontrar novidades. Talvez a D. Rosa ou a indolente Maria dos Anjos brigaram com meus filhos. Encontrei a Vera Eunice dormindo e os meninos brincando na rua. Pensei: são duas horas. Creio que vou passar o dia sem novidade! O João José veio avisar-me que a perua que dava dinheiro estava chamando para dar mantimentos. Peguei a sacola e fui. Era o dono do Centro Espirita da rua Vargueiro 103. Ganhei dois quilos de arroz, idem de feijão e dois quilos de macarrão. Fiquei contente. A perua foi-se embora. O nervoso interior que eu sentia ausentou-se. Aproveitei a minha calma interior para eu ler. Peguei uma revista e sentei no capim, recebendo os raios solar para aquecer-me. Li um conto. Quando iniciei outro surgiu os filhos pedindo pão. Escrevi um bilhete e dei ao meu filho João José para ir ao Arnaldo comprar sabão, dois melhoraes e o resto pão. Puis agua no fogão para fazer café. O João retornou-se. Disse que havia perdido os melhoraes. Voltei com ele para procurar. Não encontramos.

 

Quando eu vinha chegando no portão encontrei uma multidão. Crianças e mulheres, que vinha reclamar que o José Carlos havia apedrejado suas casas. Para eu repreendê-lo.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada.9 ed. 6 imp. São Paulo: Ática, 2007.

Sobre a relação da personagem com o meio em que vive, assinale a afirmativa correta.

a

Percebe-se uma interação amistosa quando observamos, no relato, a descrição do ambiente. 

b

Carolina é colocada como a extensão do meio em que vive. 

c

A desconexão da personagem com o meio em que vive é percebida nos trechos do relato que deixam notória a antipatia com a vizinhança.

d

O olhar da protagonista sempre está voltado para os filhos, o que implica dizer que não se percebe preocupação da personagem com o meio em que vive. 

e

Carolina, nesse trecho, esboça a preocupação de mudar-se da favela, tendo em vista que visa melhorias na condição de vida que proporciona aos filhos.

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Resposta
C

Resolução

O texto apresentado é um extrato do livro 'Quarto de Despejo: diário de uma favelada', de Carolina Maria de Jesus. A obra, que é um diário, retrata o cotidiano difícil de sua autora, uma catadora de papel que vive na favela com seus filhos. É possível perceber uma relação conflituosa entre a personagem e o ambiente em que vive, o que inclui a vizinhança hostil e as dificuldades econômicas enfrentadas. A resposta correta para a pergunta sobre a relação da personagem com o meio em que vive é a opção 'C', pois ela destaca justamente essa desconexão e antipatia em relação à vizinhança.

Dicas

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Considere o contexto socioeconômico retratado no texto.
Observe as relações de Carolina com a vizinhança e as condições de vida descritas.
Reflita sobre como a personagem percebe e se sente em relação ao ambiente ao seu redor.

Erros Comuns

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Acreditar que descrições literárias são sempre positivas ou idealizadas.
Confundir a personagem com o meio sem considerar suas características individuais.
Não perceber as nuances de conflito no texto.
Ignorar elementos do texto que indicam preocupação com o meio.
Supor intenções ou planos da personagem que não são explicitados no texto.
Revisão
Para responder à questão, é importante entender o conceito de ambiente em uma obra literária, que abrange o espaço físico, social e psicológico onde a narrativa se desenrola. O ambiente tem uma influência significativa sobre os personagens e pode moldar suas ações e percepções. Além disso, a literatura pode ser utilizada como um instrumento de crítica social, como é o caso da obra de Carolina Maria de Jesus, que expõe as condições de vida em uma favela brasileira.
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