UEFS Caderno 1 2016/1

TEXTO:

[1] Um leitor de La Repubblica perguntou o que

podemos fazer para escapar da situação alarmante em

que nos encontramos depois da crise do crédito e como

evitar suas consequências possivelmente catastróficas.

[5] Essas são perguntas que nos fazemos todos os

dias; afinal, não foi só o sistema bancário e a bolsa de

valores que sofreram duros e sucessivos golpes — nossa

confiança nas estratégias de vida, nos modos de agir,

nos padrões de sucesso e no ideal de felicidade que,

[10] dia após dia, nos últimos anos, nos disseram que valia

a pena seguir também foi abalada e perdeu parte

considerável de sua autoridade e poder de atração.

Nossos ídolos, versões líquido-modernas do bezerro de

ouro bíblico, derreteram ao mesmo tempo que a confiança

[15] na economia!

Pensando em retrospecto, os anos anteriores à

crise do crédito parecem ter sido tempos tranquilos e

alegres do tipo “aproveite agora, pague depois”; uma

época em que nós agíamos com a certeza de que haveria

[20] riqueza suficiente e até maior no dia seguinte, anulando

qualquer preocupação com o crescimento das dívidas

de hoje, desde que fizéssemos o que se exigia para

aderir aos “caras mais inteligentes da turma” e seguir

seu exemplo. Naqueles dias que ficaram para trás, o

[25] exercício de subir montanhas cada vez mais altas e ter

acesso a paisagens cada vez mais arrebatadoras,

eclipsar as grandiosas montanhas de ontem com o perfil

das colinas de hoje e aplainar as colinas de ontem na

gentil ondulação das planícies de hoje parecia durar para

[30] sempre.

Uma possível reação à crise econômica atual é o

que Mark Furlong denominou de “militarização do eu”.

É o que vão fazer, sem dúvida, os produtores e

comerciantes interessados em capitalizar a catástrofe

[35] transformando-a em lucro acionário, como de hábito. A

indústria farmacêutica já está em plena atividade,

tentando invadir, conquistar e colonizar a nova “terra

virgem” da depressão pós-crise a fim de vender sua “nova

geração” de smart drugs, começando por semear, cultivar

[40] e fazer crescer as novas ilusões que tendem a

propulsionar a demanda. Já estamos ouvindo falar de

drogas fantásticas que prometem “melhorar tudo”,

memória, humor, potência sexual e a energia de quem

as ingere com regularidade, proporcionando assim total

[45] controle sobre a construção do próprio ego e sua

preponderância sobre o ego de outros.

Contudo há outra possibilidade. Existe a opção de

tentar chegar às raízes do problema atual e (como sugeriu

Furlong) “fazer o contrário do que estamos

[50] acostumados: inverter o padrão e organizar nosso

pensamento não mais a partir daquele em que o ‘indivíduo’

está no centro, mas segundo uma ordem alternativa

centrada em práticas éticas e estéticas que privilegiem a relação e o contexto”.

[55] Trata-se, sem dúvida, de uma possibilidade remota

(inverossímil ou pretensiosa, diriam alguns), que exige

um período prolongado, tortuoso e muitas vezes doloroso

de autocrítica e reajuste. Nascemos e crescemos numa

sociedade completamente “individualizada”, na qual a

[60] autonomia, a autossuficiência e o egocentrismo do

indivíduo eram axiomas que não exigiam provas (nem

as admitiam), e que dava pouco espaço, se é que dava,

à discussão. Só que mudar nossa visão de mundo e

assumir uma compreensão adequada do lugar e do papel

[65] que temos na sociedade não é fácil nem se faz de um

dia para o outro. No entanto, essa mudança parece ser

imperativa, na verdade, inevitável.

BAUMAN, Zygmunt. Como escapar da crise? In: 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. Tradução Vera Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 161-165. Tradução de: 44 Letters from the Liquid Modern World. Adaptado.

Considerando-se a linha de raciocínio utilizada pela voz autoral para desenvolver suas ideias, é correto afirmar, quanto aos parágrafos, que o

 

a

primeiro introduz o tema através da narração de um contexto particular vivenciado pelo próprio locutor, que já apresenta sua tese sobre a situação-problema então configurada.

b

segundo evidencia as consequências e as soluções para Questão 5 a realidade descrita no parágrafo anterior, apresentando uma analogia entre o ideal atual de felicidade e uma imagem bíblica.

c

terceiro é construído a partir de fatos passados que expressam valores que divergem ideologicamente daqueles vigentes no contexto social contemporâneo.

d

quarto explicita a conduta de alguns segmentos sociais diante da depressão pós-crise dominante na sociedade, que é criticada pela voz autoral, por pretender tirar proveito da situação.

e

quinto revela a contradição do próprio enunciador do discurso, que defende ideias consideradas inconciliáveis por falta de fundamentação lógica.

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
D
Resolução
Assine a aio para ter acesso a esta e muitas outras resoluções
Mais de 250.000 questões com resoluções e dados exclusivos disponíveis para alunos aio.
Tudo com nota TRI em tempo real
Saiba mais
Esta resolução não é pública. Assine a aio para ter acesso a essa resolução e muito mais: Tenha acesso a simulados reduzidos, mais de 200.000 questões, orientação personalizada, video aulas, correção de redações e uma equipe sempre disposta a te ajudar. Tudo isso com acompanhamento TRI em tempo real.
Dicas
expand_more
expand_less
Dicas sobre como resolver essa questão
Erros Comuns
expand_more
expand_less
Alguns erros comuns que estudantes podem cometer ao resolver esta questão
Conceitos chave
Conceitos chave sobre essa questão, que pode te ajudar a resolver questões similares
Estratégia de resolução
Uma estratégia sobre a forma apropriada de se chegar a resposta correta
Depoimentos
Por que os estudantes escolhem a aio
Tom
Formando em Medicina
A AIO foi essencial na minha preparação porque me auxiliou a pular etapas e estudar aquilo que eu realmente precisava no momento. Eu gostava muito de ter uma ideia de qual era a minha nota TRI, pois com isso eu ficava por dentro se estava evoluindo ou não
Sarah
Formanda em Medicina
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar