UECE 2011/2

Texto 1

 

Tempo Incerto

 

[1]   Os homens têm complicado tanto o  

mecanismo da vida que já ninguém tem  

certeza de nada: para se fazer alguma coisa  

é preciso aliar a um impulso de aventura  

[5] grandes sombras de dúvida. Não se acredita  

mais nem na existência de gente honesta; e  

os bons têm medo de exercitarem sua  

bondade, para não serem tratados de  

hipócritas ou de ingênuos. 

[10]   Chegamos a um ponto em que a virtude  

é ridícula e os mais vis sentimentos se  

mascaram de grandiosidade, simpatia,  

benevolência. A observação do presente  

leva-nos até a descer dos exemplos do  

[15] passado: os varões ilustres de outras eras  

terão sido realmente ilustres? Ou a História  

nos está contando as coisas ao contrário,  

pagando com dinheiros dos testamentos a  

opinião dos escribas? 

[20]   Se prestarmos atenção ao que nos dizem  

sobre as coisas que nós mesmos  

presenciamos — ou temos que aceitar a  

mentira como a arte mais desenvolvida do  

nosso tempo, ou desconfiaremos do nosso  

[25] próprio testemunho, e acabamos no  

hospício! 

  Pois assim é, meus senhores! Prestai  

atenção às coisas que vos contam, em  

família, na rua, nos cafés, em várias letras  

[30] de forma, e dizei-me se não estão incertos  

os tempos e se não devemos todos andar de  

pulga atrás da orelha! 

  A minha esperança estava no fim do  

mundo, com anjos descendo do céu; anjos  

[35] suaves e anjos terríveis; os suaves para  

conduzirem os que se sentarão à direita de  

Deus, e os terríveis para os que se dirigem  

ao lado oposto. Mas até o fim do mundo  

falhou; até os profetas se enganam, a  

[40] menos que as rezas dos justos tenham  

podido adiar a catástrofe que, afinal, seria  

também uma apoteose. E assim  

continuaremos a quebrar a cabeça com  

estes enigmas cotidianos. 

[45]   No tempo de Molière, quando um criado  

dava para pensar, atrapalhava tudo. Mas  

agora, além dos criados, pensam os patrões,  

as patroas, os amigos e inimigos de uns e  

de outros e todo o resto da massa humana.  

[50] E não só pensam, como também pensam  

que pensam! E além de pensarem que  

pensam, pensam que têm razão! E cada um  

é o detentor exclusivo da razão! 

  Pois de tal abundância de razão é que  

[55] se faz a loucura. Os pedestres pensam que  

devem andar pelo meio da rua. Os  

motoristas pensam que devem pôr os  

veículos nas calçadas. Até os bondes, que  

mereciam a minha confiança, deram para  

[60] sair dos trilhos. Os analfabetos, que deviam  

aprender, ensinam! Os ladrões vestem-se de  

policiais, e saem por aí a prender os  

inocentes! Os revólveres, que eram  

considerados armas perigosas, e para os  

[65] quais se olhava a distância, como quem  

contempla a Revolução Francesa ou a  

Guerra do Paraguai — pois os revólveres  

andam agora em todos os bolsos, como  

troco miúdo. E a vocação das pessoas, hoje  

[70] em dia, não é para o diálogo com ou sem  

palavras, mas para balas de diversos  

calibres. Perto disso, a carestia da vida é um  

ramo de flores. O que anda mesmo caro é a  

alma. E o Demônio passeia pelo  

[75] mundo, glorioso e impune. 

(Cecília Meireles. In: Escolha o seu sonho. p. 48-49.)

 

Atente para o seguinte enunciado: E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem que pensam, pensam que têm razão! (linhas 50-52).

 

Sobre ele afirma-se que

 

I. poderia ser reescrito da seguinte maneira, para evitar repetição do verbo pensar: E não só raciocinam, como também pensam que raciocinam! E além de acharem que raciocinam, supõem que têm razão!

II. tem o ritmo acentuado em decorrência do eco provocado pela repetição da forma verbal pensam.

III. alcança, com a repetição do verbo pensar, dois objetivos: enfatizar o ato de raciocinar ou refletir e, ao mesmo tempo, ironizar o exercício do raciocínio praticado por pessoas supostamente ignorantes.

 

Está correto o que se diz em

a

I, II e III.

b

II apenas.

c

II e III apenas. 

d

I e II apenas. 

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Resposta
A
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