Santo Agostinho 2019/2

Texto 1

 

Para que serve a filosofia?

 

     Todos nós deveríamos dedicar um pouco do nosso tempo a fazer perguntas das mais simples às mais
complexas sem medo de parecermos bobos.

     As pessoas ficam compreensivelmente confusas sobre o que é a filosofia. De longe, parece estranha,
irrelevante, chata e, ao mesmo tempo, também — um pouquinho — intrigante, mas é difícil explicar exatamente do
[05] que se trata. O que são filósofos? O que fazem? Por que precisamos deles? Felizmente, a resposta já está na
própria palavra “filosofia”. Em grego, philo significa amor — ou devoção — e sophia quer dizer “sabedoria”. Filósofos
são, assim, pessoas dedicadas à sabedoria. Embora seja um termo um tanto abstrato, o conceito de “sabedoria” não
é nebuloso. Ser sábio significa tentar viver e morrer bem, levar a melhor vida possível dentro das condições
problemáticas da existência. A meta da sabedoria é a realização. Você pode até dizer que é a “felicidade”, mas
[10] “felicidade” é ilusória, pois sugere alegria e animação constantes, enquanto “realização” parece compatível com
muita dor e sofrimento, que toda vida decente deve necessariamente ter. Então um filósofo, ou “pessoa dedicada à
sabedoria”, é alguém que se aplica à especialização sistemática em descobrir a melhor maneira de encontrar
realização individual e coletiva. Em sua busca pela sabedoria, os filósofos desenvolveram um conjunto muito
específico de habilidades. Ao longo dos séculos, eles se especializaram em muitas das questões amplas e gerais
[15] que tornam as pessoas não muito sábias. Identificamos seis: Qual é o sentido da vida? O que devo fazer com meu
trabalho? O que vamos fazer como uma sociedade? O que é o amor? A maioria de nós pensa nessas questões em
algum momento (com frequência durante a noite), mas ficamos desesperados ao tentar respondê-las. Elas têm o
status de piada na maioria dos círculos sociais, e ficamos tímidos ao expressá-las (exceto por alguns breves
momentos na adolescência) por medo de sermos considerados pretensiosos e não chegarmos a lugar algum. No
[20] entanto, essas questões são profundamente importantes, porque somente com respostas fundamentadas a elas é
que podemos direcionar nossa energia significativamente. Filósofos são pessoas que não têm medo das grandes
perguntas. Ao longo dos séculos, fizeram as maiores delas. Percebem que essas questões sempre podem ser
divididas em partes mais gerenciáveis, e a única coisa realmente pretensiosa é alguém pensar que está acima de
fazer periodicamente questionamentos que parecem ingênuos

 [25]     A opinião pública — ou o que é chamado de “senso comum” — é sensata e racional em inúmeras áreas. É o
que você ouve de amigos e vizinhos, as coisas simplesmente presumidas como verdadeiras, que você absorve sem
ao menos pensar nelas. A mídia jorra isso diariamente, mas, em alguns casos, o senso comum também é cheio de
absurdos, distorções e preconceitos dos mais lamentáveis. A filosofia nos faz submeter todos os aspectos do senso
comum à razão. Ela quer que pensemos por conta própria, sejamos mais independentes. É de fato verdade o que
[30] dizem sobre amor, dinheiro, filhos, viagens, trabalho? Os filósofos querem saber se uma ideia é lógica — em vez de
simplesmente presumir que deve estar certa só porque sempre se pensou dessa maneira.

     Não somos muito bons em saber o que acontece em nossa mente. Sabemos que realmente gostamos de uma
música, mas temos dificuldade em dizer exatamente o porquê. Ou alguém que conhecemos é muito irritante, mas
não conseguimos apontar exatamente qual é o problema. Ou, então, perdemos a calma, mas não sabemos
[35] identificar o que nos incomoda tanto. Não temos uma boa percepção de nossas próprias satisfações e desgostos. É
por isso que precisamos examinar nossa própria mente. A filosofia está comprometida com o autoconhecimento, e
seu preceito central — articulado pelo pioneiro e maior filósofo, Sócrates — é curto: “Conhece a ti mesmo”. 

     Somos incrivelmente determinados a tentar ser felizes, mas constantemente falhamos nesse processo.
Exageramos o poder que algumas coisas têm de melhorar nossa vida — e subestimamos outras. Em uma sociedade
[40] consumista, fazemos escolhas erradas porque, guiados por um glamour falso, ficamos imaginando que um tipo em
particular de férias, carro ou computador fará uma diferença maior do que a possível. Ao mesmo tempo,
subestimamos a contribuição de outras coisas — como dar uma caminhada, arrumar um armário, ter uma conversa
estruturada ou ir dormir cedo —, o que pode ter pouco prestígio, mas contribui profundamente para a natureza da
existência. Filósofos buscam ser sábios ao serem mais precisos quanto às atividades e atitudes que podem
[45] realmente ajudar nossa vida a ser melhor. 

     Somos inevitavelmente seres emotivos, mas com frequência esquecemos esse fato desconfortável. Às vezes,
algumas emoções — certos tipos de raiva, inveja ou ressentimento — nos levam a problemas sérios. Os filósofos
nos ensinam a pensar em nossas emoções em vez de simplesmente senti-las. Ao entender e analisar nossos
sentimentos, aprendemos a ver como as emoções afetam nosso comportamento de formas inesperadas,
[50] contraintuitivas e, às vezes, perigosas. Filósofos foram os primeiros terapeutas. 

     Estamos sempre perdendo a noção do que é importante e do que não é. Estamos — como diz a expressão —
constantemente “perdendo a perspectiva”. Os filósofos são bons em mantê-la. Ao ouvir a notícia de que havia
perdido todas as suas posses em um naufrágio, o filósofo estoico Zenão simplesmente disse: “A fortuna [o acaso, o
destino me leva a ser um filósofo menos sobrecarregado”. São respostas assim que tornaram o termo “filosófico” um
[55]sinônimo de pensamento calmo e de longo prazo e de força mental, resumidamente, para ter perspectiva. O que
chamamos de “história da filosofia” é composto de tentativas repetidas ao longo dos séculos de abordar formas nas
quais não somos sábios. Então, por exemplo, na Atenas antiga, Sócrates deu atenção especial ao problema de

     como as pessoas ficam confusas. Ele ficava incomodado por as pessoas não saberem exatamente explicar o que
eram conceitos essenciais como coragem, justiça ou sucesso, embora fossem os mais usados ao falarem sobre a
[60] própria vida. Sócrates desenvolveu um método (que ainda tem seu nome) pelo qual é possível aprender a ter mais
clareza sobre o que se quer dizer ao ser o advogado do diabo com qualquer ideia. O objetivo não é necessariamente
mudar de opinião, mas sim testar se os conceitos que orientam sua vida são firmes. Algumas décadas depois, o
filósofo Aristóteles tentou nos deixar mais confiantes em torno das grandes perguntas. Ele achava que as melhores
questões eram aquelas que indagavam para que algo serve. Fez muito isso e, em vários livros, questionou: para que
[65] serve o governo? Para que serve a economia? Para que serve o dinheiro? Para que serve a arte? Hoje, ele nos
incentivaria a perguntar: para que serve a mídia jornalística? Para que serve o casamento? Para que servem as
escolas? Para que serve a pornografia? Os filósofos estoicos, interessados no pânico, também eram ativos na
Grécia antiga. Eles notaram uma característica realmente central do pânico: entramos nele não apenas quando algo
ruim acontece, mas quando acontece muito inesperadamente, quando presumíamos que tudo correria bem. Então
[70] sugeriram que deveríamos nos proteger do pânico ao nos acostumarmos com a ideia de que perigo, problemas e
dificuldades muito provavelmente surgirão a qualquer momento. A tarefa geral de estudar filosofia é absorver essas e
muitas outras lições e colocá-las para funcionar no mundo hoje. A questão não é apenas saber o que este ou aquele
filósofo diziam, mas tentar exercitar a sabedoria no nível individual e social — a partir de agora. A sabedoria da
filosofia é entregue — nos tempos modernos — na maior parte em forma de livros, mas, no passado, os filósofos
ficavam sentados em praças e discutiam suas ideias com os pedestres ou entravam em gabinetes e palácios de
[75] governo para dar conselhos. Não era anormal ter um filósofo na folha de pagamento. A filosofia era considerada uma
atividade normal e básica — não um item opcional incomum e esotérico. Atualmente, não é que neguemos
abertamente esse pensamento — sempre ouvimos frases de sabedoria aqui e ali —, mas simplesmente não temos
as instituições certas estabelecidas para promulgar a sabedoria de forma coerente no mundo. No futuro, entretanto,
quando o valor da filosofia estiver um pouco mais claro para todos, poderemos esperar encontrar mais filósofos na
[80] vida cotidiana. Eles não estarão trancados, vivendo principalmente em departamentos de universidades ou em
escolas, porque os momentos em que nossa falta de sabedoria aparece — e bagunça nossa vida — são inúmeros e
precisam de atenção imediata.  

Fonte: ARMSTRONG, John. Para que serve a filosofia? Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2018.

 

Texto 2

Assinale a afirmativa do Texto 1 que se relaciona diretamente ao Texto 2.

a

“Filósofos são, assim, pessoas dedicadas à sabedoria. Embora seja um termo um tanto abstrato, o conceito de ‘sabedoria’ não é nebuloso.” (Linhas 6-8) 

b

“Felizmente, a resposta já está na própria palavra ‘filosofia’. Em grego, philo significa amor — ou devoção — e sophia quer dizer ‘sabedoria’”. (Linhas 5-6) 

c

“As pessoas ficam compreensivelmente confusas sobre o que é a filosofia. De longe, parece estranha, irrelevante, chata e, ao mesmo tempo, também — um pouquinho — intrigante, mas é difícil explicar exatamente do que se trata.” (Linhas 3-5)

d

“A opinião pública — ou o que é chamado de ‘senso comum’ — é sensata e racional em inúmeras áreas. É o que você ouve de amigos e vizinhos, as coisas simplesmente presumidas como verdadeiras, que você absorve sem ao menos pensar nelas.” (Linhas 25-27)

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C
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