UNIFENAS manhã 2016/1

Texto 1

 

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d’expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado.

Tenho próprio casal , e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite:

Das brancas ovelhinhas tiro o leite;

E mais as finas lãs de que me visto.

     Graças, Marília bela,

     Graças à minha Estrela!

 

Eu vi o meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores, que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado:

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste.

Ao som dela concerto a voz celeste;

Nem canto letra, que não seja minha.

     Graças, Marília bela,

     Graças à minha Estrela!

 

Mas tendo tantos dotes da ventura,

Só apreço lhes dou, gentil pastora,

Depois que o teu afeto me segura,

Que queres do que tenho ser senhora.

É bom, minha Marília, ser dono

De um rebanho, que cubra monte, e prado;

Porém, gentil pastora, o teu agrado

Vale mais qu’um rebanho, e mais que um trono.

     Graças, Marília bela,

     Graças à minha Estrela!

 

Os teus olhos espalham a luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina

Te cobre as faces, que são cor da neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! não fez o Céu, gentil pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.

     Graças, Marília bela,

     Graças à minha Estrela!

 

Leve-me a sementeira muito embora

O rio sobre os campos levantado:

Acabe, acabe a peste matadora,

Sem deixar uma rês, o nédio gado.

Já destes bens, Marília, não preciso:

Nem me cega a paixão, que o mundo

                                               /arrasta;

Para viver feliz, Marília, basta

Que os olhos movas, e me dês um riso.

     Graças, Marília bela,

     Graças à minha Estrela!

 

Texto 2

 

Tu não verás , Marília, cem cativos

Tirarem o cascalho e a rica terra,

Ou dos cercos dos rios caudalosos,

     Ou da minada serra.

 

Não verás separar ao hábil negro

Do pesado esmeril a grossa areia,

E já brilharem os granetes de ouro

     No fundo da bateia.

 

Não verás derrubarem os virgens matos.

Queimar as capoeiras inda novas,

Servir de adubo à terra a fértil cinza.

     Lançar os grãos nas covas.

 

Não verás enrolar negros pacotes

Das secas folhas do cheiroso fumo;

Nem espremer entre as dentadas rodas

     Da doce cana o sumo.

 

Verás em cima da espaçosa mesa

Altos volumes de enredados feitos;

Ver-me-ás folhear os grandes livros,

     E decidir os pleitos.

 

Enquanto resolver os meus consultos,

Tu me farás gostosa companhia,

Lendo os fastos da sábia, mestra história,

     E os cantos da poesia.

 

Lerás em alta voz, a imagem bela;

Eu, vendo que lhe dás o justo apreço,

Gostoso tornarei a ler de novo

     O cansado processo.

 

Se encontrares louvada uma beleza,

Marília, não lhe invejes a ventura,

Que tens quem leve à mais remota idade

     A tua formosura.

 

(Apud: Antologia dos Poetas Brasileiros – Poesia da Fase Colonial. Org. Walmyr Ayala. Rio de Janeiro. Tecnoprint Gráfica S.A., 1967)


I – Em ambos os textos, as vozes poéticas colocam em prática um processo de valorização de si mesmas. No texto 1, o pastor, na condição de proprietário, supera o vaqueiro; no texto 2, o magistrado, que exerce atividade intelectual, mostra-se superior ao escravo, ao trabalhador braçal.

II - Considerando que os textos dados fazem parte de uma mesma obra (“Marília de Dirceu”), em que a voz poética é a do pastor Dirceu, pode-se apontar, no texto 2, uma incoerência, visto que o referido pastora aparece exercendo uma ocupação pouco compatível com quem se integra, como se vê no texto 1, um ambiente puramente bucólico, ou campestre.

III – A leitura do texto 2, permite constatar uma descrição, com realismo moderado, de atividades típicas do Brasil colonial, como a mineração e as agriculturas fumageira e canavieira. Trata-se, dessa maneira, de um “abrasileiramento” da poesia árcade em decorrência do contexto econômico em que está inserida.

a

I, II e III – corretos.

b

I e II – corretos; III – incorreto.

c

I – correto; II – incorreto: III- correto.

d

 I – incorreto: II – correto; III – incorreto.

e

I – incorreto: II e III – corretos.

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
A
Resolução
Assine a aio para ter acesso a esta e muitas outras resoluções
Mais de 250.000 questões com resoluções e dados exclusivos disponíveis para alunos aio.
Tudo com nota TRI em tempo real
Saiba mais
Esta resolução não é pública. Assine a aio para ter acesso a essa resolução e muito mais: Tenha acesso a simulados reduzidos, mais de 200.000 questões, orientação personalizada, video aulas, correção de redações e uma equipe sempre disposta a te ajudar. Tudo isso com acompanhamento TRI em tempo real.
Dicas
expand_more
expand_less
Dicas sobre como resolver essa questão
Erros Comuns
expand_more
expand_less
Alguns erros comuns que estudantes podem cometer ao resolver esta questão
Conceitos chave
Conceitos chave sobre essa questão, que pode te ajudar a resolver questões similares
Estratégia de resolução
Uma estratégia sobre a forma apropriada de se chegar a resposta correta
Depoimentos
Por que os estudantes escolhem a aio
Tom
Formando em Medicina
A AIO foi essencial na minha preparação porque me auxiliou a pular etapas e estudar aquilo que eu realmente precisava no momento. Eu gostava muito de ter uma ideia de qual era a minha nota TRI, pois com isso eu ficava por dentro se estava evoluindo ou não
Sarah
Formanda em Medicina
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar