Texto 1
Antônio Conselheiro (excertos)
Patativa do Assaré
do LP “A Terra é Naturá”
Cada um na vida tem seu direito de julgar.
Como tenho o meu também, com razão quero falar
Nestes meus verso singelos, mas de sentimentos belos
Sobre um grande brasileiro, cearense, meu conterrâneo.
Líder sensato, espontâneo, nosso Antônio Conselheiro
Este cearense nasceu lá em Quixeramobim.
Sei eu sei como ele viveu, sei como foi o seu fim.
Quando em Canudos chegou, com amor organizou
Um ambiente comum, sem enredos nem engodos,
Ali era um por todos e eram todos por um
[...]
Desta forma, na Bahia, crescia a comunidade
E ao mesmo tempo crescia uma bonita cidade
Já Antônio Conselheiro sonhava com o luzeiro
Da aurora da nova vida. Era qual outro Moisés,
Conduzindo os seus fiéis para a terra prometida
E assim, bem acompanhado, os planos a resolver
Foi mais tarde censurado pelos donos do poder
O taxaram de fanático, e um caso triste e dramático
Se deu naquele local. O poder se revoltou
E Canudos terminou numa guerra social.
Da catástrofe sem pá o Brasil já tá ciente
Não é preciso contar pormenorizadamente tudo quanto aconteceu.
O que Canudos sofreu nós guardados na memória
Aquela grande chacina, a grande carnificina
Que entristece a nossa história
E andar pela Bahia, chegando ao dito local
Onde aconteceu um dia o drama triste e fatal,
Parece ouvir os gemidos entre os roncos e estampidos.
E em benefício dos seus, no momento derradeiro
O nosso herói brasileiro pedindo justiça a Deus.
Disponível em: Acesso em: 12 abr. 2016.
Texto 2
De repente, surge-lhe revés violento. O plano inclinado daquela vida em declive termina, de golpe, em uma queda formidável. Foge-lhe a mulher, em Ipu, raptada por um policial. Foi o desfecho. Fulminado de vergonha, o infeliz procura o recesso dos sertões, paragens desconhecidas, onde lhe não saibam o nome; o abrigo da absoluta obscuridade.
[...]
Graças a este incidente, algo ridículo, ficara nas paragens natais breve resquício de sua lembrança.
Morrera por assim dizer.
***
... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até os ombros, barba inculta e longa: face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso dentro de um hábito de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos peregrinos...
(CUNHA, Euclides da. Os sertões. Campanha de Canudos. 33 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. p. 109)
Euclides da Cunha, cujo sesquicentenário é comemorado em 2016, foi um jornalista que, ao ser enviado para cobrir o episódio de Canudos, acabou por escrever um livro exemplar para os estudos sobre o Brasil. Por que motivo o livro de Cunha, Os sertões, é importante para pensarmos a realidade brasileira?
Porque Euclides da Cunha, ao construir uma interpretação minuciosa do episódio de Canudos, evidencia sua visão sobre a complexidade das relações que estavam em confronto naquele momento.
Porque, ao escrever Os sertões, Euclides da Cunha se coloca com neutralidade frente a um episódio singular da história brasileira.
Porque o jornalista Euclides da Cunha escreve um texto cuja leitura é facilitada pelo fato de ele utilizar uma simplificação do episódio apresentado.
Porque Os sertões, de Euclides da Cunha, é um livro escrito por um representante do governo brasileiro, exaltando o modo como este governo atuou no episódio de Canudos.
Porque a análise empreendida por Euclides da Cunha em Os sertões demonstra seu posicionamento no que diz respeito ao modo como o povo brasileiro vê seus heróis.