UEFS Caderno 1 2017/1

TEXTO:

 

[ 1 ]  A produção em série, em escala gigantesca, impõe

em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo.

Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais

devastadora que qualquer ditadura do partido único:

 [ 5 ] impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz

os seres humanos como fotocópias do consumidor

exemplar.

  O sistema fala em nome de todos, dirige a todos

suas ordens imperiosas de consumo, difunde, entre todos

[ 10 ] a febre compradora. A maioria, que se endivida para ter

coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar

dívidas, as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir

fantasias que, por vezes, materializa delinquindo.

  Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as

 [15 ] galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são

submetidas à luz contínua, para que cresçam mais

depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também

estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão

condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela

 [ 20 ] angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom

para as pessoas, mas é muito bom para a indústria

farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos

sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que

se vendem legalmente no mundo, e mais da metade

 [25 ] das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que

não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm

apenas cinco por cento da população mundial.

  Invisível violência do mercado: a diversidade é

inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. O

 [30 ] consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização,

que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a

gordura com a boa alimentação. O país que inventou as

comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat

free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O

 [35 ] consumidor exemplar só sai do automóvel para trabalhar

e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran,

passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.

  As massas consumidoras recebem ordens num

idioma universal: a publicidade conseguiu o que o

[40 ]esperanto quis e não pôde. Tempo livre, tempo prisioneiro:

as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor

e o televisor tem a palavra. Comprado a prazo, esse

animalejo prova a vocação democrática do progresso:

não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos

[45 ] conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último

modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas

taxas de juros que este ou aquele banco oferece.

  Os peritos sabem converter as mercadorias em

conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm

[ 50 ] atributos humanos: acariciam, acompanham,

compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel

é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da

solidão o mais lucrativo dos mercados. A publicidade

não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes

[55 ] o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial

consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias.

Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade,

mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de

sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão

[ 60 ] parecido que a diferença é assunto para especialistas.

  O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas

as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As

multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior

das massas do consumo. A maioria dos devotos

[ 65 ] contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos

não podem pagar, enquanto a minoria compradora

submete-se ao bombardeio da oferta incessante e

extenuante.

  A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena

[ 70 ] tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo

vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade

de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos,

para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz.

Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos do fugaz,

[ 75 ] oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança.

Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz,

sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do

espaço, para além das turbulências da perigosa

realidade do mundo.

[ 80 ]   A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um

defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há

natureza capaz de alimentar um shopping center do

tamanho do planeta.

GALEANO, Eduardo. O império do consumo. Disponível em: <http:// www.cartacapital.com.br/economia/o-imperio-do-consumo>. Acesso em: 20 out. 2016 (passim).

“A injustiça social não é um erro a corrigir” (l. 80).

Com essa afirmativa, o autor introduz uma conclusão que está corretamente explicitada em

 

a

A sociedade de consumo depende da existência de diferenças sociais; portanto a injustiça social é condição necessária e inerente à sua existência.

b

A sociedade de consumo corrige a injustiça social; nela, todos têm o direito de escolher livremente os bens de consumo que desejarem possuir.

c

A injustiça social constitui uma falácia, já que os recursos disponíveis no planeta são suficientes e podem ser equitativamente distribuídos.

d

Justiça ou injustiça social constituem contradições passíveis de superação a partir do avanço tecnológico possibilitado pela sociedade de consumo.

e

Injustiça social é uma expressão abstrata, que não abarca os problemas mais graves decorrentes do rápido avanço da sociedade de consumo.

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A
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