ITA 2017

Texto 1: A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas? 

Por Francisco Fernandes Ladeira 

 

[1]   À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a  

mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é impotente frente  

aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente.  

Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas  

[5] sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as  

opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los,  

autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de Classe,  

Sarah Chucid Da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é  

momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo  

[10] social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um  

autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos.  

Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma  

audiência submissa, passiva e acrítica. 

  Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de  

[15] proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente  

complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens  

transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma  

maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na  

controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de  

[20] seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo.  

Todos nós, ao entramos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade.  

Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens,  

acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à  

“verdade”. [...] 

[25]   [...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo  

recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de  

comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar,  

trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia,  

religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor  

[30] situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se  

completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro A construção da política: 

democracia, cidadania e meios de comunicação de massa. Evidentemente, o peso de cada quadro de  

referência tende a variar de acordo com a realidade individual. Seguindo essa linha de raciocínio, no original  

estudo Muito Além do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva constatou como telespectadores  

[35] do Jornal Nacional acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou coletivos, para filtrar as informações  

veiculadas, traduzindo-as segundo seus próprios valores. “A síntese e as conclusões que um telespectador  

vai realizar depois de assistir a um telejornal não podem ser antecipadas por ninguém; nem por quem  

produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao mesmo tempo que aquele telespectador”, inferiu Carlos  

Eduardo. 

Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-as-pessoas/. (Publicado em 14/04/2015, na edição 846. Acesso em 13/07/2016.) 

  

Texto 2: Vídeos falsos confundem o público e a imprensa 

Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado

 

[1]   Cerca de duas horas depois da divulgação dos atentados de terça-feira (22/03) em Bruxelas,  

apareceu um vídeo no YouTube, sob a alegação de que seriam imagens do circuito fechado de televisão  

(CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto Zaventem, da cidade. As imagens rapidamente se  

espalharam pelas redes sociais e foram divulgadas por alguns dos principais sites de notícias. Depois desse,  

[5] surgiu outro vídeo, supostamente mostrando uma explosão na estação de metrô Maelbeek, próxima ao  

Parlamento Europeu, e ainda um outro, alegando ser do aeroporto. 

  Entretanto, nenhum dos vídeos era o que alegava ser. Os três vídeos eram gravações de 2011, dois  

de um atentado ao aeroporto Domodedovo, de Moscou, e um de uma bomba que explodiu numa estação de  

metrô de Minsk, capital da Belarus

[10]   As imagens distorcidas dos clipes do circuito fechado de televisão foram convertidas de cor em  

preto e branco, horizontalmente invertidas, novamente etiquetadas e postadas como se tivessem surgido dos  

acontecimentos do dia. Embora a conta do YouTube que compartilhou as imagens com falsos objetivos tenha  

sido rapidamente tirada do ar, outros veículos as reproduziram dizendo que eram de Bruxelas. 

  Os vídeos ilusórios são exemplos de um fenômeno que vem se tornando cada vez mais comum em  

[15] quase todas as matérias importantes que tratam de acontecimentos violentos e que ocorrem rapidamente.  

Reportagens falsas ou ilusórias espalham-se rapidamente pelas redes sociais e são acessadas por  

organizações jornalísticas respeitáveis, confundindo ainda mais um quadro já incrivelmente confuso. 

  A disseminação e divulgação de falsas informações não têm nada de novo, mas a internet tornou  

mais fácil plantar matérias e provas falsas e ilusórias, que serão amplamente compartilhadas pelo Twitter e  

[20] pelo Facebook. 

  Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, que é uma coalizão de organizações que se  

especializam em checar informações e conta com o apoio do Google, disse que parte do problema é que  

qualquer pessoa que publique em plataformas como o Facebook tem a capacidade de atingir uma audiência  

tão ampla quanto aquelas que são atingidas por uma organização jornalística. “Pode tratar-se de alguém  

[25] tentando desviar propositalmente a pauta jornalística por motivos políticos, ou muitas vezes são apenas  

pessoas que querem os números, os cliques e os compartilhamentos porque querem fazer parte da conversa  

ou da validade da informação”, disse ele. “Eles não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o mesmo tipo  

de distribuição.” 

  Nesse meio tempo, a rápida divulgação das notícias online e a concorrência com as redes sociais  

[30] também aumentaram a pressão sobre as organizações jornalísticas para serem as primeiras a divulgar cada  

avanço, ao mesmo tempo em que eliminam alguns dos obstáculos que permitem informações equivocadas. 

  Uma página na web não só pode ser atualizada de maneira a eliminar qualquer vestígio de uma  

mensagem falsa, mas, quando muitas pessoas apenas se limitam a registrar qual o website em que estão  

lendo uma reportagem, a ameaça à reputação é significativamente menor que no jornal impresso. Em muitos  

[35] casos, um fragmento de informação, uma fotografia ou um vídeo são simplesmente bons demais para checar. 

  Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais pressão junto a algumas organizações para agirem  

rapidamente, para clicar, para ser a primeira… E há, evidentemente, uma pressão comercial para ter aquele  

vídeo fantástico, aquela foto fantástica, para ser de maior interesse jornalístico, mais compartilhável e tudo  

isso pode se sobrepor ao desejo de ser certo.” 

Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)

 

Pode-se afirmar corretamente que tanto o Texto 1 quanto o Texto 2 

a

condenam a forma como veículos de comunicação menosprezam seu público.

b

consideram que a mídia confunde o público com informações boas demais para serem questionadas.

c

atribuem às redes sociais da internet um papel fundamental na formação de opinião. 

d

trazem exemplos de situações sensacionalistas utilizadas pela mídia. 

e

mencionam mais de um tipo de mídia no desenvolvimento de sua argumentação.

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