UECE 2015

Texto 1

 

A dor 

 

[1]   O que torna a tortura atraente é o fato de  

que ela funciona. O preso não quer falar,  

apanha e fala. É sobre essa simples constatação  

que se edifica a complexa justificativa da tortura  

[5] pela funcionalidade. O que há de terrível nela é  

sua verdade. O que há de perverso nessa  

verdade é o sistema lógico que nela se apoia  

valendo-se da compressão, num juízo  

aparentemente neutro do conflito entre dois  

[10] mundos: o do torturador e o de sua vítima.  

Tudo se reduz à problemática da confissão. 

  Assim, a tortura pressiona a confissão e  

triunfa em toda a sua funcionalidade quando  

submete a vítima. Essa é a hipérbole virtuosa do  

[15] torturador. Assemelha-se ao ato cirúrgico,  

extraindo da vítima algo maligno que ela não  

expeliria sem agressão. 

  A teoria da funcionalidade da tortura  

baseia-se numa confusão entre interrogatório e  

[20] suplício. Num interrogatório há perguntas e  

respostas. No suplício, o que se busca é a  

submissão. O “supremo opróbrio” é cometido  

pelo torturador, não pelo preso. Quando a  

vítima fala, suas respostas são produto de sua  

[25] dolorosa submissão à vontade do torturador, e  

não das perguntas que ele lhe fez. Prova disso  

está no fato de que nos cárceres soviéticos  

milhares de presos confessaram coisas que  

jamais lhes haviam passado pela cabeça,  

[30] permitindo ao stalinismo construir suas  

catedrais conspiratórias. 

  O poder absoluto que o torturador tem de  

infligir sofrimento à sua vítima transforma-se  

em elemento de controle sobre seu corpo. No  

[35] meio da selva amazônica, espancando um  

caboclo analfabeto que pedia ajuda divina para  

sustar os padecimentos, um torturador  

resumiria sua onipotência embutida: “Que Deus  

que nada, porque Deus aqui é nós mesmo”. A  

[40] mente insubmissa torna-se vítima de sua  

carcaça, que é, a um só tempo, repasto do  

sofrimento e presa do inimigo. “O preso só  

lastima uma coisa: o ‘diabo’ do corpo continua  

aguentando”, lembraria o dirigente comunista  

[45] Marco Antônio Coelho. Ainda que a certa altura  

a mente prefira a morte à confissão, aquele  

corpo dolorido se mantém vivo, permitindo o  

suplício. 

(GASPARI, Hélio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 37-41. Texto adaptado.)

 

Ao longo do texto, a palavra “tortura” é substituída por outras, em um processo que se conhece como anáfora. Nesta questão, lidamos com duas anáforas de tortura: “suplício” (linha 21); “supremo opróbrio” (linha 22). Atente ao que se diz a respeito dessas anáforas.

 

I. O vocábulo “tortura” e suas anáforas – “suplício” e “opróbrio” – estão em uma ordem aleatória, casual. Poder-se-ia mudar a ordem em que foram distribuídos e o texto não seria prejudicado em nenhum nível.

II. A ordem em que os três vocábulos – “tortura”, “suplício” e “opróbrio” – estão dispostos no texto indica uma intenção argumentativa do enunciador, isto é, uma intenção de convencer o leitor sobre as ideias que expressa. Esse cunho argumentativo intensifica-se com o adjetivo “supremo”.

III. O vocábulo supremo significa “que está acima de qualquer coisa; que se encontra no limite máximo”. Assim, esse adjetivo modaliza o discurso do enunciador. Mostra a relação dele com o que está dizendo. No caso do texto, essa relação é de conteúdo assumido: o enunciador assume totalmente o conteúdo do que diz.

 

Está correto o que se afirma em

a

I, II e III. 

b

II e III apenas. 

c

I e III apenas. 

d

I e II apenas.

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Resposta
B
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