ENEM 2016 terceira aplicação
Tendo se livrado do entulho do maquinário volumoso e das enormes equipes de fábrica, o capital viaja leve, apenas com a bagagem de mão, pasta, computador portátil e telefone celular. O novo atributo da volatilidade fez de todo compromisso, especialmente do compromisso estável, algo ao mesmo tempo redundante e pouco inteligente: seu estabelecimento paralisaria o movimento e fugiria da desejada competitividade, reduzindo a priori as opções que poderiam levar ao aumento de produtividade.
BAUMAN, Z. Moderniadede líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
No texto, faz-se referência a um processo de transformação do mundo produtivo cuja consequência é o(a)
regulamentação de leis trabalhistas mais rígidas.
fragilização das relações hierárquicas de trabalho.
decréscimo do número de funcionários das empresas.
incentivo ao investimento de longos planos de carreiras.
desvalorização dos postos de gerenciamento corporativo.
Resolução
A questão pede para identificar uma consequência do processo de transformação do mundo produtivo descrito no texto de Zygmunt Bauman.
1. Análise do Texto: O texto descreve uma mudança no capitalismo, onde o capital se torna "leve" e "volátil". Isso significa que ele não está mais preso a "maquinário volumoso" e "enormes equipes de fábrica". Essa nova característica de volatilidade torna os compromissos estáveis, como empregos de longo prazo, indesejáveis e ineficientes para o capital, pois limitam sua mobilidade e competitividade.
2. Identificação da Transformação: O processo descrito é a transição para um capitalismo mais flexível, menos dependente de grandes estruturas físicas e de grandes contingentes de trabalhadores fixos.
3. Busca pela Consequência: A pergunta central é: qual o resultado direto dessa transformação mencionada no texto?
4. Avaliação das Alternativas:
- A (regulamentação de leis trabalhistas mais rígidas): O texto sugere o oposto. A busca por flexibilidade e competitividade geralmente leva à pressão por menos rigidez nas leis trabalhistas, não mais.
- B (fragilização das relações hierárquicas de trabalho): Embora a flexibilização possa afetar as hierarquias, o texto foca explicitamente na redução das "enormes equipes", ou seja, no tamanho da força de trabalho direta, e não primariamente na estrutura hierárquica.
- C (decréscimo do número de funcionários das empresas): Esta opção está diretamente alinhada com a ideia de se livrar das "enormes equipes de fábrica" e do capital viajando "leve". A redução do maquinário e a busca por flexibilidade implicam a necessidade de menos funcionários fixos nas empresas.
- D (incentivo ao investimento de longos planos de carreiras): O texto afirma que o "compromisso estável" se tornou "redundante e pouco inteligente", contradizendo diretamente a ideia de incentivo a longos planos de carreira.
- E (desvalorização dos postos de gerenciamento corporativo): O texto não aborda a valorização ou desvalorização específica dos postos de gerenciamento. A menção a "pasta, computador portátil e telefone celular" pode até sugerir a importância desses profissionais na gestão do capital volátil. O foco da redução está nas "enormes equipes".
5. Conclusão: A consequência mais direta e explicitamente apoiada pelo texto é o decréscimo do número de funcionários, resultado da busca por leveza e flexibilidade do capital ao se livrar das grandes equipes de fábrica. Portanto, a alternativa C é a correta.
Dicas
Erros Comuns
Para resolver esta questão, é útil entender o conceito de Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman. Ele descreve a fase contemporânea da modernidade como "líquida" porque as estruturas sociais (como o Estado, a família, o trabalho) perdem sua solidez e se tornam fluidas, flexíveis e voláteis. No campo do trabalho, isso se manifesta na transição do Fordismo (produção em massa, grandes fábricas, empregos estáveis) para o Pós-Fordismo ou Acumulação Flexível. Nesse novo modelo, o capital busca mobilidade, adaptabilidade e redução de custos fixos, o que frequentemente leva à diminuição das grandes plantas industriais, à terceirização, à automação e à precarização das relações de trabalho, com menos empregos estáveis e de longo prazo.
