CESGRANRIO 2011

Tarde Cinzenta

 

A tarde de inverno é perfeita. O tempo nublado

acinzenta tudo. Mesmo os mais empedernidos cultores

da agitação, do barulho, das cores, hoje se

rendem a uma certa passividade e melancolia. Os

espíritos ensimesmados reinam; os ativos pagam tributo

à reflexão. Sem o sol, que provoca a rudeza dos

contrastes, tudo é sutil, tudo é suave.

Tardes assim nos reconciliam com o efêmero.

Longe das certezas substanciais, ficamos flutuando

entre as névoas da dúvida. A superficialidade, que

aparentemente plenifica, dissolve-se; acabamos ancorados

no porto das insatisfações. E, ao invés de

nos perenizarmos como singularidade, desejamos

subsumir na névoa...como a montanha e a tarde.

A vida sempre para numa tarde assim. É como

se tudo congelasse. Moléculas, músculos, máquinas

e espíritos interrompem seu furor produtivo e se rendem,

estáticos, à magia da tarde cinzenta.

Numa tarde assim, não há senão uma coisa a

fazer: contemplar. O espírito, carregando consigo um

corpo por vezes contrariado, aquieta-se e divaga; torna-

se receptivo a tudo: aos mínimos sons, às réstias

de luz que atravessam a névoa, ao lento e pesado

progresso que tudo conduz para o fim do dia, para o

mergulho nas brumas da noite. As narinas absorvem

com prazer um odor que parece carregado de umidade;

a pele sente o toque enérgico do frio. O langor

impõe-se e comanda esse estar-no-mundo como que

suspenso por um tênue fio que nos liga, timidamente,

à vida ativa.

Nas tardes cinzentas, o coração balança entre

a paz e a inquietação, porque a calma e o silêncio

inquietam. O azáfama anestesia; o não fazer deixa o

espírito alerta — como um nervo exposto a qualquer

acontecer.

Não há jamais nada de espetacular nas tardes

cinzentas, a não ser o espetáculo da própria tarde. E

este é grandiosamente simples: ar friorento, claridade

difusa que se perde no cinza, contemplação, inatividade

e o contraditório do espírito aguçado e acuado

por esse acontecer minimalista da vida.

Na tarde fria e cinzenta, corpos se rendem ao

aconchego de roupas macias ou de braços macios

em abraços suaves. Somente olhares e corações

conservam o fogo das paixões. As vozes agudas e

imperativas transformam-se em sons baixos, quase

guturais, que muitas vezes convertem-se em sussurros,

como temendo quebrar a magia da tarde.

Não nos iludamos com as aparências: não há

necessariamente tristeza nas tardes cinzentas. Mas

também não existe aquela alegria inconsequente

dos dias cálidos e dourados pelo sol. Existe, sim, um

equilíbrio perfeito, numa equidistância entre o tédio

e a euforia, fazendo-nos caminhar sobre um tênue

fio distendido entre o amargor e a satisfação, entre o

entusiasmo e o tédio. Tudo isso, porém, só se mostra

aqui e ali, em meio à bruma difusa, ao cinza que

permeia tudo.

Uma simples tarde cinzenta pode parar o mundo,

pode deter a vida. Somente por um instante. Mas

talvez apenas nos corações sensíveis.

 

CARINO, J. Disponível em: http://www.almacarioca.net/tarde-cinzenta-j-carino/ Acesso em: 23 ago. 2010. (Adaptado) 

No primeiro parágrafo do texto, as palavras “...empedernidos...” (l. 2) e “...ensimesmados...” (l. 5) podem ser substituídas, sem alteração do sentido, respectivamente, por 

a

inflexíveis e recolhidos.

b

subestimáveis e irredutíveis.

c

descrentes e indecisos.

d

remotos e céticos.

e

inusitados e insondáveis.

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