Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio — o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo da velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
(ROSA, João Guimarães. “A Terceira Margem do Rio”, Primeiras estórias, Nova Fronteira, 2005)
Segundo o texto, o personagem:
divaga sobre as palavras tristes.
teme pela vida de seu pai, dadas as doenças.
crê que a verdadeira razão de tudo é a sua idade avançada.
talvez quisesse transmitir a própria tranquilidade ao pai.
desvia sua atenção para o rio, a fim de esquecer a ausência do pai.