Sorriso interior
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranquila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão–lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
CRUζ e SOUζA, João da. Sorriso interior. Últimos sonetos. Rio de Janeiro: UFSC/Fundação Casa de Rui Barbosa/FCC, 1984.
O poema representa a estética do Simbolismo, nascido como uma reação ao Parnasianismo por volta de 1885. O Simbolismo tem como característica, entre outras, a visão do poeta inspirado e capaz de mostrar à humanidade, pela poesia, o que esta não percebe.
O trecho do poema de Cruz e Souza que melhor exemplifica o fazer poético, de acordo com as características dos simbolistas, é:
“Leva consigo esse brasão augusto”.
“Fica sereno, num sorriso justo/Enquanto tudo em derredor oscila”.
“O ser que é ser e que jamais vacila/Nas guerras imortais entra sem susto”.
“Os abismos carnais da triste argila/Ela os vence sem ânsias e sem custo...”.
“O ser que é ser transforma tudo em flores.../E para ironizar as próprias dores/Canta por entre as águas do Dilúvio!”.
A questão pede para identificar o trecho do poema "Sorriso Interior", de Cruz e Souza, que melhor exemplifica uma característica central do Simbolismo: a visão do poeta como um ser inspirado, capaz de revelar à humanidade, por meio da poesia, realidades ocultas ou profundas que normalmente não são percebidas. O enunciado já nos direciona para essa função reveladora e transformadora da poesia simbolista.
Vamos analisar o poema e as opções:
O poema descreve um "ser que é ser", uma figura idealizada que possui força interior, serenidade e capacidade de transcender as dificuldades do mundo material ("guerras imortais", "abismos carnais da triste argila", "tudo em derredor oscila"). Esse ser possui uma grandeza interior ("Ondas interiores de grandeza") que lhe confere esplendor.
Agora, vejamos qual trecho melhor representa o fazer poético simbolista descrito no enunciado:
Portanto, o trecho que melhor exemplifica o fazer poético simbolista, conforme descrito, é o da alternativa E.
Simbolismo:
O Simbolismo foi um movimento literário e artístico que surgiu na França no final do século XIX, como reação ao Realismo/Naturalismo e ao Parnasianismo. Suas principais características são:
No Brasil, Cruz e Souza é um dos maiores expoentes do Simbolismo, explorando temas como a dor existencial, a espiritualidade, a busca pelo absoluto e a condição do negro.