Soneto XCVIII
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
Claudio Manuel da Costa. Poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.
Considerando o poema acima, o estilo de época em que ele se insere bem como a relação entre homem e natureza, assinale a opção correta.
A despeito da forte carga emotiva evidenciada na revelação da natureza, não se verificam, nesse poema, elementos neoclássicos.
Nesse poema, representativo do Arcadismo brasileiro, combinam-se elementos da convenção clássica e um lirismo revelador da relação tensa entre a subjetividade branda do eu lírico e a natureza dura das penhas.
Nesse soneto, caracteristicamente árcade, a natureza é retratada como lugar místico e insólito, conhecido na tradição clássica como locus amoenus.
Esse soneto, de forma tipicamente neoclássica, apresenta um forte pendor para a objetividade, recorrendo o poeta ao universalismo para evitar qualquer relação subjetiva entre homem e natureza.