Soneto da hora final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
[3] Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.
Tu me olharás silenciosamente
[6] E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.
[9] Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte.
[12] E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.
No poema, há diversas referências metafóricas à morte, como exemplifica o seguinte verso:
Estando nós a contemplar o poente (v. 2)
E eu te olharei também, com nostalgia (v. 6)
Ao transpor as fronteiras do Segredo (v. 9)
E como dois antigos namorados (v. 12)