Solitário
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
_ Velho caixão a carregar destroços _
Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
ANJOS, Augusto dos. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro/1998, p. 75.
O poema apresenta características pré-modernistas como:
versos em forma de soneto com sistema regular de rimas.
jogos sonoros percebidos em “Fazia frio e o frio que fazia...”
emprego de termos pouco poéticos como “carniçaria”, “caixão”, “carcaça” e “tumba”.
estado inconsciente do eu-lírico ao se comparar com um fantasma que se refugia.
expressão de fenômenos por meio de símbolos abstratos: “...Caixão a carregar destroços.”