Solitário
Augusto dos Anjos
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
O poema apresenta as seguintes marcas parnasianas e simbolistas, respectivamente:
linguagem antilírica e vocabulário científico.
ceticismo e visão determinista do mundo.
jogos de palavras e expressões do cotidiano.
apuro formal e angústia existencial.
expressões poéticas e signos abstratos.