Sobre São Bernardo, de Graciliano Ramos, pode-se AFIRMAR:
Graciliano Ramos é um representante do romance nordestino regionalista. Nota-se, contudo, que a busca pelo psicológico é a sua diferença maior em relação aos outros autores de temática abertamente social. São Bernardo (1934) conta a história de um Paulo Honório, que, de modesto trabalhador rural, se torna imponente proprietário e transpõe a agressividade da prática de seus negócios para sua vida afetiva. O processo memorialístico – mediado pela intenção de escrita – que realiza no livro, nos revela um personagem psicologicamente abalado.
Paulo Honório é um típico herói moderno, caracterizado pela segurança com que toma suas decisões (sempre em benefício dos mais pobres e dos empregados da fazenda São Bernardo), pela exemplaridade de seus atos e pela incorruptibilidade que demonstra, sobrevivendo, com integridade, a um meio social decaído moralmente.
Em São Bernardo, a narração em terceira pessoa capta, de modo linear e progressivo, a história do fazendeiro Paulo Honório e descreve suas aventuras até realizar (já com cinquenta anos) o desejo de escrever um livro. Esse sonho fora várias vezes adiado em seu passado, devido a uma série de experiências negativas pelas quais passou, como o suicídio da esposa, Madalena.
Anunciando, a princípio, a intenção de escrever um livro com sua história, Paulo Honório explica o seu original método: fazer a obra pela "divisão do trabalho". Para tanto, "Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do ‘Cruzeiro’. "(p.7). Há pleno acordo entre as partes envolvidas e o livro, com a ajuda de todos, vem a ser escrito. Porém, é um fracasso de vendas, razão da melancolia sentida pelo protagonista.
São Bernardo é um romance sobre a incomunicabilidade de Paulo Honório, um personagem notabilizado pela extrema dificuldade de fazer uso da fala em sua experiência social. A falta de palavras se relaciona ao sistema de poder e ao mandonismo que prevalece na localidade em que o personagem mora. Aos mais pobres, como ele, por não ser dado o direito à posse da terra, também é retirado o direito de se expressar de modo elaborado. Nisso se tem, no livro, um retrato das relações sociais no Brasil agrário.