Sobre o narrador do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, assinale a alternativa CORRETA.
Machado de Assis é um romancista afinado com as tendências de sua época. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, seu primeiro romance realista, o autor constrói um texto típico dessa estética literária, com narrador de terceira pessoa onisciente neutro. Esse recurso favorece o tom crítico que caracteriza a criação machadiana a partir desse momento de sua obra.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance narrado de modo fragmentado e dividido entre quatro narradores-personagens: Brás, Virgília, Lobo Neves e Marcela. A proposta, tipicamente, moderna – embora seja anterior ao Modernismo -, consiste em relativizar a centralidade do ponto de vista de um único narrador. São apresentadas diferentes visões de um mesmo fato, o relacionamento adúltero de Brás e Virgília.
O romance está entre os da primeira fase da obra do autor. O que predomina nas criações desse segmento da ficção de Machado de Assis é o romance romântico de feitio convencional, centrado numa intriga amorosa narrada em primeira pessoa. É o que se vê na confissão de Brás em suas memórias, recordando o amor que viveu por Virgília.
Memórias Póstumas de Brás Cubas relata, por meio de uma narração em terceira pessoa, os percalços da vida de um jovem de boa família, que, tendo tido oportunidades de se firmar em várias atividades profissionais ou de relevância social em sua época, leva uma vida sem ideais, sempre isento de ter de tomar decisões ou atitudes importantes. O narrador não é neutro, sendo, na verdade, uma consciência crítica – e por vezes mordaz – diante do perfil do protagonista.
Embora identificado, em sua base ideológica – no que tem de crítico à realidade brasileira – como exemplo da prosa realista, o romance de Machado de Assis apresenta uma opção narrativa que não é típica dessa escola literária. Temos nas Memórias Póstumas um narrador-personagem cuja narração é imprecisa e hesitante, por vezes não linear e feita de invectivas não raro críticas ao eventual leitor. Esses procedimentos são marcas do caráter moderno da ficção machadiana.