Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é correto afirmar que:
embora lance o leitor ao desafio, genuinamente romanesco, do confronto de ideias, não se pode classificar a obra como um “romance filosófico” ou “romance de ideias”, pois nela sobressaem as peripécias narrativas.
o escritor propõe um singular cruzamento da tradição do romance humorístico europeu – Laurence Sterne, Miguel de Cervantes, Denis Diderot, Almeida Garrett... – com a problematização da existência ou da condição humana.
trata-se de um “romance de costumes”, decerto, mas costumes sempre inseparáveis de situações particulares; ou “romance moral”, mas de uma moralidade desconjuntada pelo humor, ou seja, sem conteúdo generalizável.
Machado lançou mão de modelos literários anacrônicos e os recuperou em uma época de crença férrea no progresso e na ciência, tornando tais modelos, entretanto, incompatíveis com o exame – impiedoso e retrógrado – da vida, da história e da sociedade humana.
trata-se do último romance da chamada fase romântica do escritor. Fase, aliás, que, por muito tempo, constituiu um emblema de sua prosa romanesca, ou de seu estilo, ou de seu humor.